domingo, 25 de dezembro de 2005

75) Resoluçoes de Ano Novo (V)


Uma nova “caixa de surpresas” para o ano que se inicia

Paulo Roberto de Almeida

(continuação do post 74)

4. Prometo também escolher, com base unicamente no mérito pessoal e na sua estrita capacitação técnica e profissional, os meus assistentes de trabalho, para não dar mais essa impressão de ineficiência ou de improvisação na gestão da minha pequena firma.

Uma micro empresa, uma padaria que seja, não é uma “casa de mãe Joana”, e ninguém deveria esperar que eu dê emprego na minha pequena bodega apenas porque o cidadão, que seja o companheiro das peladas de domingo ou da cervejinha no final da semana, acabou ficando sem emprego por má sorte na vida ou apostas erradas que fez na loteria política. Numa quitanda na qual só cabem cinco vendedores, eu não posso colocar dez, ou mesmo mais, apenas porque alguns desses amigos ficaram de repente na rua da amargura. Por isso, não contem comigo para inflar a minha folha de pagamentos apenas em nome de uma velha amizade: afinal de contas, eu tenho de zelar pelo bom equilíbrio do botequim. Inclusive porque o fisco não dá moleza e os acréscimos laborais, com toda essa legislação generosa que protege o trabalhador, são de lascar: eu praticamente dobro a minha folha com esses penduricalhos ditos sociais.

E tem outra coisa, mulher: tem gente que se acostumou mal com os velhos tempos de mensalão sindical e reluta em enfrentar o batente. Assistente para mim é para trabalhar, de preferência naquilo em que seja competente, e por isso eu estou no direito de exigir diploma do Sesi ou do Senac. Não adianta enrolar, que eu vou ser implacável: quem não tem competência que não se estabeleça...

5. Prometo falar a verdade, somente a verdade e apenas a verdade, cada vez que os vizinhos, amigos e outros moradores da minha rua me perguntarem sobre os assuntos lá de casa, sobre minhas preferências no futebol e minhas opiniões políticas ou religiosas, sem esconder nada de ninguém, mesmo se eu, por acaso, tiver deixado lixo na rua ou não tiver contribuído para a segurança do bairro, deixando de pagar a taxa de vizinhança, por exemplo.

Coisa chata essa de ficar o tempo todo enrolando vizinhos e curiosos com desculpas esfarrapadas a propósito da quebradeira financeira lá em casa, ou das freqüentes visitas de cobradores que volta e meia aparecem pedindo algum dinheiro por esse ou aquele motivo. Como eu não tenho a cara de pau de ficar mentindo, acabo recorrendo àquela linguagem empolada dos jornalistas que se borram de medo de ser processados por afirmações levianas ou indevidas: “o chefe presumível das supostas malversações na contabilidade suposta da minha firma, teve a suposição de pretender que eu sabia o que era suposto saber mas não sabia, nem supunha, mas nunca cheguei a supor que os meus inimigos iriam descer tão baixo a ponto de levantar suposições indevidas contra as alegadas práticas, com as quais agora querem supostamente me assacar.” Não sei o que o meu conselheiro legal pensa a respeito dessas supostas irregularidades, mas o fato é que, até agora, não há nenhuma prova que sustente essas suposições, e não se pode sair por aí condenando ninguém sem provas cabais. Na verdade, o melhor mesmo seria que os vizinhos e curiosos parassem de meter o bedelho nas coisas lá de casa, pois ninguém tem o direito de por a colher torta onde não é chamado. Mas, prometo também, em nome do que me é mais sagrado, contar toda a verdade, doa a quem doer, cortando na própria carne se for preciso.

Por outro lado, essa coisa de “taxa de vizinhança” para a segurança da rua já está me dando nos nervos. Afinal de contas, a gente paga impostos para o governo para quê? Não é para ter segurança, justamente? Agora temos de pagar duplamente, para o governo e para a segurança particular? Essa situação um dia vai ter de acabar, e só precisamos esperar a próxima eleição...

(continua para o último post desta série.)

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