Um blog dedicado aos livros, às relações internacionais e aos problemas do desenvolvimento econômico e social, com ênfase nas questões da inserção internacional do Brasil. Ver outros trabalhos meus no site pessoal: www.pralmeida.org.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2006
114) Um iPod para ler livros? Por que não?
Depois do meu post sobre o "Odissei", o e-reader da Philips (ver o post nr. 77), tomei conhecimento do surgimento deste concorrente, desta vez da Sony. Transcrevo abaixo a matéria de jornal sobre o novo aparelho.
Será que estamos perto do livro eletrônico de verdade? E, além de Sidney Sheldon, será que teremos também Max Weber, Karl Marx e Adam Smith? Bastante improvável, mas se der para descarregar os milhares de livros eletrônicos já disponíveis nas bibliotecas públicas, seria um grande avanço.
Não creio, porém. Desconfio que os fabricantes vão atuar de conluio com as grandes editoras para fornecer apenas conteúdo proprietário, extraindo renda extra dos leitores compulsivos (como eu). Isso já acotneceu com música e video, o que estimula o mercado pirata e os "circumvention devices" dos hackers, o que leva os produtores a darem saltos ainda maiores na tecnologia de criptagem, até que tudo volte ao preço normal. Sempre foi assim, nos novos mercados atrativos...
Mas será que livros eletrônicos atrairão tantos fanáticos quanto hoje os amantes de música pop e piratas do video? Acho que não.
De minha parte, eu só gostaria que o e-reader fosse também impermeável, pois assim daria para lê-lo na chuva, no sol, e quem sabe até num banho de imersão...
(PS: A imagem que ilustra este post é do Librie, uma versão anterior de e-reader, que parece não ter decolado...)
Jornal Valor Econômico - 03.01.06 - pág. B3
Novidade será apresentada amanhã em Las Vegas
Business Week
A Sony será capaz de fazer o iPod dos livros digitais? Esse é o plano. Na Feira de Eletrônicos de Consumo, com início amanhã em Las Vegas, a gigante japonesa planeja lançar um "e-reader" - aparelho portátil leitor de livros em formato eletrônico - para vender nos EUA.
O usuário poderá armazenar e ler livros digitais. O preço no varejo irá de US$ 300 a US$ 500. A Sony, que forneceu poucos detalhes sobre a novidade, já firmou contratos com pelo menos três grandes editoras para vender cópias de livros digitais em sua loja virtual Sony Connect - iniciativa semelhante à adotada pela Apple Computer, em sua iTunes Music Store, que atende os usuários de iPods.
Nos idos de 2000, um punhado de leitores de livros digitais chegou ao mercado, mas ficaram frustrados porque a tecnologia não proporcionava uma experiência adequada equivalente à leitura de um livro real. Agora que muitas empresas - Google, Microsoft e HarperCollins, entre elas - estão digitalizando livros e com a chegada de uma nova e elegante tecnologia de telas de exibição, a Sony acredita que este é o momento certo para lançar o leitor portátil no mercado americano.
Mas embora a "estratégia tipo iPod" da Sony, integrando perfeitamente conteúdo e hardware, tenha perspectivas, a leitura de livros num aparelho digital ainda não se assemelha a ler um "livro de verdade" para a maioria dos consumidores. Por isso, será difícil criar um mercado substancial para os "e-livros", que corresponderam a 0,2% dos 944 milhões de livros vendidos no mundo pelas editoras americanas em 2004. "Ninguém criou um aparelho suficientemente atraente capaz de seduzir as massas", diz Nick Bogaty, diretor-executivo do International Digital Publishing Forum, uma organização que congrega as empresas do setor.
Estará a Sony à altura do desafio? A empresa que no passado dominou o mercado dos aparelhos portáteis sofreu uma de série recentes reveses, devido a implementação deficiente no terreno de mídia digital. A chegada tardia da Sony ao mercado de música digital e sua política de exclusividade permitiu que a Apple dominasse uma categoria antes comandada pela Sony. Em 2004, a japonesa lançou, em seu mercado local, um "e-reader" que não decolou. Denominado Librie, o dispositivo conquistou aprovação entusiástica por seu design, mas o preço elevado e uma tecnologia antipirataria draconiana afastaram os consumidores - os usuários podiam alugar livros da Sony por 60 dias; depois, eles apagavam-se automaticamente.
Agora, nos EUA, a Sony tem uma segunda oportunidade de criar um mercado para livros digitais. Embora sejam conhecidos poucos detalhes sobre o novo leitor, é razoável prever que seja um dispositivo tecnológico excepcional. Segundo fontes que viram o aparelho, em muitos aspectos, ele é similar ao Librie japonês. Os dois aparelhos utilizam a tela "E Ink", baseada numa tecnologia desenvolvida pela E Ink, de Cambridge, Massachussets. A tecnologia E Ink compõe o texto eletronicamente, ativando seletivamente milhares de minúsculas cápsulas pretas e brancas e criando uma experiência excepcionalmente similar à leitura de uma página impressa.
Assim como fez a Apple no caso de música para o iPod, a Sony negociou contratos com importantes empresas do setor, entre elas a Random House, Simon & Schuster, e HarperCollins, mediante os quais as editoras poderão vender livros na loja on-line.
O serviço será inaugurado com apenas os poucos milhares de livros que cada editora atualmente vende em formato digital a preços próximos dos cobrados por seus livros de bolso. Mas esse número crescerá rapidamente. Jane Friedman, executiva-chefe da HarperCollins, diz que planeja digitalizar todo o seu catálogo, tanto atual como de anos anteriores - o que poderá totalizar 25 mil títulos -, e torná-lo disponível na loja da Sony tão logo negocie seus direitos com os respectivos autores. A Random House também oferecerá seu catálogo inteiro para venda on-line (mais 25 mil títulos).
As editoras estão ansiosas por divulgar a novidade da Sony. "Esperamos que aconteça o equivalente a quando o Walkman ou o iPod surgiram" e os áudio-livros registraram um pico de venda, disse Friedman.
Tecnologia atraente e o apoio da comunidade editorial são um bom começo. Mas a Sony defronta-se com vários obstáculos. Um deles é o fato de que outras empresas também têm acesso à tecnologia E Ink, capaz de mudar as regras do jogo. É verdade que a Sony chegará ao mercado antes dos outros. Mas para o primeiro semestre de 2006, a iRex Technologies, uma empresa desmembrada da Philips Electronics, e uma companhia chinesa denominada Jinke planejam, ambas, lançar aparelhos similares nos EUA. Depois, no início de 2007, outra empresa originada da Philips, denominada Polymer Vision, e a Plastic Logic, uma recém-criada empresa britânica, planejam lançar leitores de livros eletrônicos ainda mais semelhantes a livros "de verdade" do que o da Sony. O Polymer Vision poderá ser rolado como um papiro e o da Plastic Logic será quase tão flexível quanto o papel de uma revista.
Com esses concorrentes, a Sony tem tudo a ganhar se conseguir que seu produto seja compatível com o máximo de padrões possível.
Os usuários poderão copiar qualquer arquivo no padrão PDF (formato de arquivo desenvolvido pela Adobe Systems) para o leitor de livros digitais, segundo uma pessoa familiarizada com o aparelho, bem como arquivos no formato exclusivo da Sony. Isso significa que o aparelho poderá ler de tudo - artigos de revistas, relatórios de analistas, livros com direitos autorais caducos etc.
A Sony precisa muito de uma explosão de vendas, mas não será fácil repetir no terreno dos livros o sucesso que a Apple alcançou com a música.
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