quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

115) Think Again (4): os anti-globalizadores são contra o pensamento único, certo?


Os anti-globalizadores afirmam lutar contra o pensamento único, que seria o do "consenso de Washington", o do neoliberalismo, o da economia ortodoxa, enquanto eles mesmos defendem a diversidade e a liberdade de pensamento, certo?
Errado! Pense duas vezes e veja quem ostenta o "pensamento único" (ou talvez até mesmo a falta de pensamento).

Não é fácil debater com o pessoal da anti, a começar pelo fato de que não se consegue saber direito o que pensam sobre os temas da globalização e o quê, exatamente, pretendem colocar no “lugar” desse processo.
Por mais que eu tenha me esforçado na busca, navegando de site em site, de documento em documento, encontrei poucas propostas concretas desse movimento, alguma sistematização que contivesse as principais idéias, se alguma, sobre a “globalização realmente existente” e esse “outro mundo possível”.
Slogans à parte, a consistência analítica desses “escritos” é deficiente, para dizer o mínimo, e sua adequação aos dados da realidade é inexistente.

Para dizer a verdade, existem inúmeros documentos, geralmente de caráter retórico, conclamando a manifestações antes e durante as datas e locais dos encontros oficiais da assim chamada globalização capitalista: o Fórum Econômico Mundial de Davos, em primeiro lugar, obviamente, considerado a bête noire do processo (mas agora que eles têm o seu próprio foro, Davos foi relegado a uma posição secundária), mas também as reuniões do FMI e do Banco Mundial, da OMC, da Alca, e até da UE e da UNCTAD.
O tom geral é de indignação, de revolta, mas um exame ponderado dos fatos, que é o mínimo que se requer de qualquer trabalho universitário digno de nota (no sentido de pontuação, mesmo), é algo raro, senão inexistente nos textos da anti.

Como, nessas circunstâncias, debater com o movimento?
Seria preciso antes dispor da matéria-prima essencial a qualquer debate: idéias sistematizadas, claramente expostas, método.

Não só não é fácil, como na verdade não é permitido debater com esse pessoal, na medida em que, pelas próprias regras estatutárias dos anti, só participam dos encontros do Fórum Social Mundial – o arauto le plus en vue da anti-globalização (junto com a ATTAC e outros foros menores) – aqueles movimentos e entidades da sociedade civil que se declaram de acordo com sua Carta de Princípios.
Ou seja, não é permitido ser a favor da globalização, ainda que eles o sejam, na prática, ao usarem e abusarem de todas as facilidades permitidas pela globalização para se informar, se reunir e debater. Qualquer outra pessoa física ou movimento, todavia, só pode participar se declarar-se a favor de um documento extremamente vago em seu conteúdo e definições.

Alguém que seja um anti da anti, como eu mesmo, não apenas está sumariamente excluído, ab initio, como jamais será cogitado para comparecer em algum foro. Registro aqui, ipsis litteris, o que figura nos procedimentos do FSM:
“Poderão ser convidados a participar, em caráter pessoal, governantes e parlamentares que assumam os compromissos da Carta de Princípios.”

Para participar, portanto, é preciso primeiro comprometer-se com posições dos próprios organizadores, o que não apenas configura um reducionismo absurdo, um verdadeiro cerceamento à liberdade de expressão, como também uma manifestação brutal de “pensamento único”, que eles dizem condenar.

Pensou outra vez? Não há nada mais chato e unanimemente estupido do que esse pessoal sair para manifestacoes repetindo slogans e gritando palavras de ordem. Por que eles não usam o tempo livre, que eles parecem ter de sobra, para estudar, escrever textos dotados de uma certa coerência, expor seus argumentos de maneira clara, enfim, pensar duas vezes antes de falar bobagem?

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