Um blog dedicado aos livros, às relações internacionais e aos problemas do desenvolvimento econômico e social, com ênfase nas questões da inserção internacional do Brasil. Ver outros trabalhos meus no site pessoal: www.pralmeida.org.
quinta-feira, 5 de janeiro de 2006
128) Think again (15): Meio ambiente e mercado: um instável equilíbrio
Uma última acusação, porém das mais nefandas, feitas pelos anti-globalizadores ao processo de "mondialisation capitaliste" -- como gostam de sublinhar os franceses -- é a que se refere à degradação ambiental. Segundo eles, a avidez pelo lucro faz com que as empresas destruam o meio ambiente e os recursos naturais, deixando atrás de si uma terra devastada.
Sem entrar no registro histórico das destruições ambientais provocadas pelo planejamento centralizado de tipo socialista -- ademais de outros crimes cometidos contra o próprio homem, como no caso do livro negro do Gulag --, ou então pela devastação florestal feita por posseiros em frentes rurais em países pobres, essa acusação tampouco parece se sustentar em face dos progressos alcançados na proteção ao meio ambiente, em quase todas as sociedades de mercado, inclusive com a ajuda dos ambientalistas.
A degradação ambiental e a diminuição da diversidade biológica são fatos que acompanham a civilização humana desde tempos imemoriais: as sociedades devastaram a natureza e substituíram-na por paisagens humanas, assim como domesticaram animais e agora tentam interferir no próprio ato de criação de novos seres vivos, desta vez ao nível molecular, quando já o vinham fazendo há milhares de anos ao nível da seleção das espécies.
Acreditar que tais fenômenos se reduzem a um problema de mercado ou que está ligado exclusivamente ao modo de produção capitalista é de um reducionismo atroz e, no entanto, é isso que vêm fazendo os anti-globalizadores ecológicos.
O que eles pedem, em essência, é o afastamento dos critérios de mercado das questões vinculadas ao meio ambiente – na OMC, por exemplo –, quando os sinais de mercado são os únicos capazes de, ao precificarem os custos relativos de utilização e de conservação, estabelecer um justo meio termo, por certo sempre instável, entre a preservação ambiental e o uso sensato dos recursos naturais.
A experiência das últimas décadas, em especial nos ex-países socialistas, indica que a ausência de sinais de mercado e a presença avassaladora do Estado na regulação do uso de recursos comuns pode andar de par com os piores atentados ao meio ambiente de que se tem notícia.
Parece claro que a livre disposição desses recursos também pode conduzir a abusos por parte das empresas privadas – sempre tentadas a atuarem segundo um comportamento free-rider –, mas justamente a combinação de mecanismos regulatórios com adequados estímulos de mercado parece mais condizente com as necessidades sociais do que um preservacionismo radical que parece impedir, atualmente, os povos dos países mais pobres de fazerem uso adequado de seus ainda vastos recursos naturais.
Como também indicado pela experiência histórica, as piores degradações ambientais tendem a ocorrer nas regiões mais pobres dos países em desenvolvimento. Desse ponto de vista, as posições assumidas pelos anti-globalizadores tendem, na prática, a perpetuar miséria e degradação ambiental nesses países.
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