domingo, 22 de janeiro de 2006

De mudança...


Comunico que, desde 20 de janeiro, me mudei deste Blog para outro, ou melhor dizendo, fui obrigado, por motivos de bloqueio no upload de novos posts, a transferir meus novos materiais para este endereço:

Cousas Diplomáticas
http://diplomaticas.blogspot.com/

sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

177) Interrompemos momentaneamente esta programação...


Sorry folks,

Sou obrigado a interromper a postagem de mensagens, informações, resenhas, curiosidades e outras bizarrices neste Blog, pois que o dito cujo deu para empacar como uma mula, a partir deste mesmo post (177), que estava originalmente devotado a um FAQ (Frequently Asked Questions) sobre a carreira diplomática e a diplomacia, a partir de informações do Instituto Rio Branco.

Estou me mudando, com armas e bagagens, se ouso dizer, para um novo Blog (http://diplomaticas.blogspot.com/), novinho em folha, mas que retoma a série a partir do post agora podado, em numeração sequencial.

Não sei bem o que ocorreu, mas a cada vez que tentei postar novas mensagens, a ferramenta do Blogger acusou "erros" e me mandava consultar um endereço secreto, que ainda não descobri onde fica (eu avisei a todos, no começo, que era neófito nessas coisas).
Como não pretendo discutir com uma mula, resolvi abrir novo endereço, embora de conteúdo e estilo similares ao anterior.

Desconfio que cheguei no limite do "free lunch", isto é das possibilidades de utilização gratuita de um espaço que alguém deve estar pagando em meu lugar (ainda não fui apresentado ao gentil proprietário, mas desconfio que se trate desse gigantesco empreendimento que se chama Google, e que começou pequeno, como todos nós).

Convido, portanto, todos vocês, a me reencontrarem, sempre com a mesma qualidade e estilo, nos meus novos domínios, um Blog agora chamado de Cousas Diplomáticas (http://diplomaticas.blogspot.com/)...

PS.: "Cousas Diplomáticas! é o nome de uma coletânea de ensaios que um ilustre predecessor meu, o diplomata historiador Manoel de Oliveira Lima, publicou há exatamente um século atrás...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

176) Empire, again: novos elementos do dossiê...


O tema da controvérsia entre o historiador Moniz Bandeira e os editores da revista Primeira Leitura, que em seu número de dezembro de 2005 publicou uma resenha desfavorável do livro do primeiro, Formação do império americano, volta à agenda.

Tenho procurado disponibilizar, em diversos posts, todas as peças do dossiê, tanto as resenhas favoráveis e as entrevistas do próprio autor do livro, como os comentários desfavoráveis efetuados pelo resenhista e editor da citada revista.
Ver, por exemplo, os posts 31, 32, 34 e 35, no meu Blog auxiliar, bem como as remissões efetuadas neste meu Blog principal, sob números 158 e 163.

Desta vez vou disponibilizar elementos de informação que me foram repassados pelo próprio autor, a saber:

1) Carta de Moniz Bandeira à revista Primeira Leitura, de 2 de janeiro de 2006 (Resposta a Roberto Romano, sobre o artigo “A formiga que marchava contra o império: uma fábula hegeliana”, publicado na edição 46, dezembro de 2005).
(ver o post de número 37)

2) Carta de seus advogados aos editores da revista, datada de 3 de fevereiro de 2006(sic), mas que deve ser de 3 de janeiro (pedido para que estes providenciem a publicação da carta-resposta do Prof. Moniz Bandeira, em tamanho equivalente, nos termos dos artigos 29 e seguintes da Lei de Imprensa)
(ver o post seguinte, número 38)

Transporei em meus dois blogs, o principal e o assistente, resenhas e outros textos que sejam pertinentes ao tema.

Continuarei acompanhando o assunto, mas desejando ler as peças acima descritas deste dossiê, comece pela leitura deste post em meu Blog auxiliar:
De novo o Império: mais peças do affair...

174) What if?: uma pequena guerra nuclear no Oriente Médio?


Niall Ferguson é um historiador britânico, atualmente em Harvard (assim como o Brasil exporta futebolistas, um dos principais itens de exportação da Grã-Bretanha são historiadores, e os EUA são importadores de cérebros de todo o resto do planeta).
Ele coordenou o livro Virtual History, um dos melhores exemplos do gênero "what if?" que se conhece.
No artigo abaixo, que não é exatamente de história virtual, mas de especulação antecipatória, ele imagina o cenário de uma possível guerra de aniquilamento recíproco entre o Irã e Israel, levando os EUA de roldão no caldeirão do Iraque...

The Daily Telegraph(January 15, 2006)
"The origins of the Great War of 2007 - and how it could have been prevented"
Niall Ferguson

Are we living through the origins of the next world war? Certainly, it is easy to imagine how a future historian might deal with the next phase of events in the Middle East:

With every passing year after the turn of the century, the instability of the Gulf region grew. By the beginning of 2006, nearly all the combustible ingredients for a conflict - far bigger in its scale and scope than the wars of 1991 or 2003 - were in place.
(...)
The devastating nuclear exchange of August 2007 represented not only the failure of diplomacy, it marked the end of the oil age. Some even said it marked the twilight of the West. Certainly, that was one way of interpreting the subsequent spread of the conflict as Iraq's Shi'ite population overran the remaining American bases in their country and the Chinese threatened to intervene on the side of Teheran.
Yet the historian is bound to ask whether or not the true significance of the 2007-2011 war was to vindicate the Bush administration's original principle of pre-emption. For, if that principle had been adhered to in 2006, Iran's nuclear bid might have been thwarted at minimal cost. And the Great Gulf War might never have happened.

Niall Ferguson is Laurence A. Tisch Professor of History at Harvard University.

Leiam a íntegra neste link.

O jornal O Estado de São Paulo publicou esse artigo em versão traduzida na edição de 19 de janeiro de 2006.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

173) Dez tendências globais para os negócios em 2006


A consultoria McKinsey, voltada para o ambiente corporativo global, apresenta em seu último boletim um artigo sobre as tendências globais para o mundo dos negócios em 2006.
A íntegra do artigo encontra-se neste link (que pode requerer cadastramento prévio).

Apresento abaixo um resumo apenas...

Ten trends to watch in 2006

Macroeconomic factors, environmental and social issues, and business and industry developments will all profoundly shape the corporate landscape in the coming years.

Ian Davis and Elizabeth Stephenson
Web exclusive, January 2006

Those who say that business success is all about execution are wrong. The right product markets, technology, and geography are critical components of long-term economic performance. Bad industries usually trump good management, however: in sectors such as banking, telecommunications, and technology, almost two-thirds of the organic growth of listed Western companies can be attributed to being in the right markets and geographies. Companies that ride the currents succeed; those that swim against them usually struggle. Identifying these currents and developing strategies to navigate them are vital to corporate success.

What are the currents that will make the world of 2015 a very different place to do business from the world of today? Predicting short-term changes or shocks is often a fool's errand. But forecasting long-term directional change is possible by identifying trends through an analysis of deep history rather than of the shallow past. Even the Internet took more than 30 years to become an overnight phenomenon.

Macroeconomic trends

We would highlight ten trends that will change the business landscape. First, we have identified three macroeconomic trends that will deeply transform the underlying global economy.

1. Centers of economic activity will shift profoundly, not just globally, but also regionally. As a consequence of economic liberalization, technological advances, capital market developments, and demographic shifts, the world has embarked on a massive realignment of economic activity. (...) The United States will still account for the largest share of absolute economic growth in the next two decades.

2. Public-sector activities will balloon, making productivity gains essential. The unprecedented aging of populations across the developed world will call for new levels of efficiency and creativity from the public sector. Without clear productivity gains, the pension and health care burden will drive taxes to stifling proportions.

3. The consumer landscape will change and expand significantly. Almost a billion new consumers will enter the global marketplace in the next decade as economic growth in emerging markets pushes them beyond the threshold level of $5,000 in annual household income—a point when people generally begin to spend on discretionary goods.

Social and environmental trends

Next, we have identified four social and environmental trends. Although they are less predictable and their impact on the business world is less certain, they will fundamentally change how we live and work.

4. Technological connectivity will transform the way people live and interact. The technology revolution has been just that. Yet we are at the early, not mature, stage of this revolution. (...) For perhaps the first time in history, geography is not the primary constraint on the limits of social and economic organization.

5. The battlefield for talent will shift. Ongoing shifts in labor and talent will be far more profound than the widely observed migration of jobs to low-wage countries. The shift to knowledge-intensive industries highlights the importance and scarcity of well-trained talent.

6. The role and behavior of big business will come under increasingly sharp scrutiny. As businesses expand their global reach, and as the economic demands on the environment intensify, the level of societal suspicion about big business is likely to increase. (...) The increasing pace and extent of global business, and the emergence of truly giant global corporations, will exacerbate the pressures over the next 10 years.

7. Demand for natural resources will grow, as will the strain on the environment. As economic growth accelerates—particularly in emerging markets—we are using natural resources at unprecedented rates. Oil demand is projected to grow by 50 percent in the next two decades, and without large new discoveries or radical innovations supply is unlikely to keep up. (...) The world's resources are increasingly constrained.

Finally, we have identified a third set of trends: business and industry trends, which are driving change at the company level.

8. New global industry structures are emerging. In response to changing market regulation and the advent of new technologies, nontraditional business models are flourishing, often coexisting in the same market and sector space.

9. Management will go from art to science. Bigger, more complex companies demand new tools to run and manage them. Indeed, improved technology and statistical-control tools have given rise to new management approaches that make even mega-institutions viable.

10. Ubiquitous access to information is changing the economics of knowledge. Knowledge is increasingly available and, at the same time, increasingly specialized. The most obvious manifestation of this trend is the rise of search engines (such as Google), which make an almost infinite amount of information available instantaneously. Access to knowledge has become almost universal. Yet the transformation is much more profound than simply broad access.

Ian Davis is worldwide managing director of McKinsey & Company and Elizabeth Stephenson is a consultant in McKinsey's San Francisco office. A shorter version of this article was published in the Financial Times on January 13, 2006.

172) A globalização está de porre?


Eu já tinha ouvido muitas acusações à globalização, mas confesso que esta é original: o ato de embebedar-se também está mudando por causa da globalização.
Já não se pode mais ficar de porre tranquilamente, no seu canto, com a sua caipririnha habitual...
Parece que só se pode ficar bêbado segundo as tendências da época.
É o Zeitgeist da bebida..

Esta deu no jornal mexicano La Jornada
(Jueves 12 de enero de 2006)

Hecha para "dar fuerza", la bebida está siendo sustituida por el posh, aguardiente
La globalización pone en riesgo la tradición maya de consumir chicha
ELIO GONZALEZ CORRESPONSAL

San Cristobal de Las Casas. Como muchas otras costumbres ancestrales, la de hacer chicha, bebida de origen maya elaborada con maíz que "le da fuerza al cuerpo", está en peligro de extinguirse y con ella un trozo de cultura de las comunidades indígenas, que la han sustituido por el posh (aguardiente de caña).

Esta tradición, que era común en las fiestas de las comunidades indígenas herederas de los mayas, se ha ido perdiendo conforme desaparece la relación espiritual entre el hombre y el maíz a consecuencia, principalmente, de la globalización.

"La chicha es una bebida que se hacía mucho antes de la conquista de los españoles, y está ligada a los rituales tradicionales más antiguos", afirma el investigador tzotzil Enrique Pérez López, quien dice que al dejarse de elaborar y consumir este producto natural se está perdiendo un elemento cultural de los pueblos originarios.
Tradición centenaria
Jorge Ruiz Alvarez, indígena tzeltal del municipio de Huixtán -cuya madre, Carmela Alvarez Hernández, es de las pocas personas en ese lugar que guardan celosamente la receta para hacer chicha-, afirma: "Nuestros abuelos nos cuentan que los conquistadores españoles trajeron el trago para controlar el pensamiento de nuestros antepasados y para que se olvidaran de lo que ellos tomaban.
(...)
Ruiz Alvarez resume la razón por la cual cree que se ha dejado de elaborar y consumir la chicha: "Muchos hermanos indígenas han perdido la relación espiritual que nuestros antepasados tenían con el maíz, en gran parte por culpa de la borracha globalización que todo lo ha contaminado".

Para quem não conhece espanhol, "borracha" não é a nossa borracha de apagar, mas quer dizer "bêbada"...

171) Chile: o que resta fazer...


Não vou acrescentar comentários extensos ao muito que já foi dito na imprensa sobre a vitória da socialista Michelle Bachelet para a presidência do Chile nos próximos quatro anos. Essa vitória não tem nada a ver com uma suposta "onda esquerdista" na América Latina, mas segue a tendência seguida pelo Chile desde a redemocratização nos anos 1990, na qual uma "concertação" entre democratas cristãos e socialistas moderados conduz o processo de normalização política dando continuidade ao essencial dos elementos de política econômica colocados em vigor no regime anterior, um pouco, aliás, como fez Tony Blair, na Grã-Bretanha, com a herança tatcheriana, ou seja, muito liberalismo econômico e extrema responsabilidade fiscal.

Esse caminho vai ser perseguido e continuado, no Chile, com o acréscimo de novas medidas para equacionar, ou pelo menos encaminhar, aqueles que parecem ser os problemas cruciais da sociedade chilena nesta fase:
1) Aprofundamento dos investimentos em educação, como forma de diminuir os índices ainda elevados de desigualdade distributiva
2) Reforma do sistema previdenciário, cujo regime de capitalização ainda não foi testado na prática mas que já antecipa alguns problemas graves de cobertura para indivíduos que não tiveram capacidade contributiva em bases correntes. Trata-se de uma questão de solidariedade inter-geracional que já começa a ser equacionado pelo governo chileno, neste caso bem mais responsável do que outros governos, que estão esperando o regime de repartição se deteriorar ainda mais, criando uma bomba-relógio para os atuais e futuros pensionistas do sistema.

Feliz é o país que pode se preocupar com o futuro dos seus filhos, pela educação ou pelo sistema de previdência, sem ter de se ocupar de questões tão urgentes e imediatas como tapar buracos, por exemplo...

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

170) O estado mundo em 2006 (e de metade do mundo)


Gostaria de chamar a atenção para o lançamento da edição anual do relatório global sobre o desenvolvimento sustentável sobre o estado do mundo em 2006, desta vez trazendo como destaque o estado de meio mundo, isto é, da China e da India.
Não se deve levar estritamente ao pé da letra toda a literatura produzida por ONGs, especialmente as ecologistas, e talvez em especial as americanas, mas pode-se igualmente reconhecer que muita gente séria trabalha para elas, e esta em particular, o Worldwatch Institute tem demonstrado credibilidade em seu trabalho analítico, que serve ao mesmo tempo como alerta para certas tendências preocupantes. o WI também tem um certo viés pró-desenvolvimento e pró-Terceiro Mundo, o que nem sempre é garantia de isenção científica, mas neste caso vale a pena investir.

State of the World 2006
Special Focus: China and India
January 2006, ISBN: 0-393-32771-X, 244 pages

This year, Worldwatch Institute's annual State of the World report provides a special focus on China and India, examining the global impact as these two nations join the United States and Europe as major consumers of resources and polluters of local and global ecosystems. The report explains the critical need for both countries to "leapfrog" the technologies, policies, and even the cultures that now prevail in many western countries for the sake of global sustainability—and reports on some of the strategies that China and India are starting to implement.
From the Foreword:

"The western model of growth that India and China wish to emulate is intrinsically toxic. It uses huge resources—energy and materials—and generates enormous waste. The industrialized world has mitigated the adverse impacts of wealth generation by investing huge amounts of money. But... it remains many steps behind the problems it creates. India and China have no choice but to reinvent the development trajectory."

Sunita Narain
Director, Centre for Science and Environment, New Delhi, India
Besides the focus on China and India, State of the World 2006 looks at actions corporations can take to be more socially responsible; examines the potential socioeconomic, health, and environmental implications of nanoscale technologies; assesses the impacts of large-scale development of biofuels on agriculture and the environment; describes mercury sources, industrial uses, and health hazards worldwide; and provides an overview of the need to safeguard freshwater ecosystems, with examples of proven approaches in cities, villages, and farming regions around the world.
View the complete Table of Contents and links to chapter summaries, or click on one of the images from State of the World 2006 below for sample content.

State of the World 2006

Table of Contents

Foreword
Xie Zhenhua

Foreword
Sunita Narain

Preface
Christopher Flavin

State of the World: A Year in Review
Lori Brown

Chapter 1: China, India, and the New World Order
Christopher Flavin and Gary Gardner

Chapter 2: Rethinking the Global Meat Industry
Danielle Nierenberg

Chapter 3: Safeguarding Freshwater Ecosystems
Sandra Postel

Chapter 4: Cultivating Renewable Alternatives to Oil
Suzanne C. Hunt and Janet L. Sawin with Peter Stair

Chapter 5: Shrinking Science: An Introduction to Nanotechnology
Hope Shand and Kathy Jo Wetter

Chapter 6: Curtailing Mercury's Global Reach
Linda Greer, Michael Bender, Peter Maxson, and David Lennett

Chapter 7: Turning Disasters into Peacemaking Opportunities
Michael Renner and Zoë Chafe

Chapter 8: Reconciling Trade and Sustainable Development
Aaron Cosbey

Chapter 9: Building a Green Civil Society in China
Jennifer L. Turner and Lü Zhi

Chapter 10: Transforming Corporations
Erik Assadourian

Notes
Index

169) Temporada de caça a diplomatas (IV): quase fechando...


Interessados, apressai-vos!
Diplomates en herbe, hâtez-vous!
Ahora es la hora...

O prazo de inscrição para o concurso de admissão à carreira diplomática encerra-se no próximo dia 22 de janeiro de 2006.
Edital, Guia de Estudos e outras informações podem ser consultados no site do IRBr.

Permito-me lembrar que eu já coloquei três posts neste meu blog, resumindo toda essas informações, inclusive um lista seletiva de leituras.

Please, follow the links:

93) Aberta a temporada de caça a diplomatas (I)
Edital do concurso de 2006

94) Aberta a temporada de caça a diplomatas (II)
Programas das provas da Segunda e da Terceira Fases do Concurso.

103) Aberta a temporada de caça a diplomatas (III)
Guia de Estudos do Concurso de Admissão à Carreira Diplomática
Recomendações Bibliográficas

Time to run...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

168) Anti-globalizadores super globalizados


Caro leitor,
Dê uma olhada na lista de compromissos, abaixo transcrita. Ela corresponde a vários (mas não todos) compromissos assumidos pelos anti-globalizadores neste ano de 2006. A programação, tão intensa quanto a de um executivo de multinacionais, deve levá-los a todos os cantos do planeta, por todos os meios de transporte possíveis e todos os tipos de acomodações. Os agentes de turismo, hoteleiros e restauradores em geral devem ficar contentes de serem locais de destino. Azar de Porto Alegre, que perdeu o privilégio, por razões puramente políticas aliás.

Vamos à lista dos encontros:

1. FSM 2006 policêntrico capítulo Américas e II FSA (24 a 29 de janeiro de 2006, Caracas, Venezuela)
2. FSM 2006 policêntrico Bamako (Mali) (19 a 23 de janeiro de 2006)
3. FSM 2006 policêntrico Karachi (Paquistão) (datas próximas)
4. Fórum Social Magreb (13 a 15 de janeiro de 2006, Bouznika, Marrocos)
5. Fórum Social dos Povos da Guatemala (20 e 21 de janeiro de 2006, Guatemala)
6. VI Fórum de Autoridades Locais (23 e 24 de janeiro de 2006, Caracas, Venezuela)
7. Acampamento Binacional Brasil-Uruguai (24 a 29 de janeiro de 2006,Barra do Chuí, em Santa Vitória do Palmar, no Brasil, e na Barra do Chuy e na cidade de Rocha, no Uruguai)
8. Fórum Continental da Saúde das Américas (janeiro de 2006, Caracas, Venezuela)
9. Fórum Social da Dinamarca (3 a 5 de fevereiro de 2006, Copenhagen, Dinamarca)
10. Fórum Social Porto Rico (26 a 28 de março de 2006, em Porto Rico)
11. IV Fórum Social Europeu (6 a 9 de abril de 2006, Atenas, Grécia)
12. Fórum Social Holandês (19 a 21 de maio de 2006, Nijmegen, Holanda)
13. II Fórum Social Mundial das Migrações Espanha 2006 (22 a 24 de junho de 2006, Rivas Vaciamadrid, Madri, Espanha)
14. Fórum Social Caribe (1 a 4 de julho de 2006, Martinica
15. Forum Social Midwest (6 a 9 de julho de 2006, Milwaukee, Wisconsin, Estados Unidos)
16. Fórum Mundial da Paz (Vancouver, Canadá, 2006).

Não é de perder o fôlego?
Agora, me responda, sinceramente: você não acha que os anti-globalizadores estão super-globalizados?
Do que, afinal de contas, eles reclamam na globalização?
Não precisa responder, eu só queria entender...

Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 16 de janeiro de 2006

167) Dez grandes autores, sempre válidos...


Livros de todas as eras para o século XXI

Recolhi do site de um “book lover” americano, Richard Geib, uma lista dos dez maiores livros para iluminar o século XX. Elaborada naquele ano, acho que a lista ainda se sustenta.

Ten Books to Read for the Year 2000

Those who forget the past are doomed to repeat it
A sobering thought considering this our ignominious 20th century
of revolutions, totalitarian tyranny, world wars, gulags, and death camps!
Below are some recommendations for good books on 20th century history!


1) Modern Times by Paul Johnson - It takes a big mind to tackle "big" history; Johnson makes it look effortless.

2) History of the Peloponnesian War by Thucydides - Cutting insight into the nature of realpolitik, as relevant today as in the Athens of Pericles.

3) Farenheit 451 by Ray Bradbury - Multi-media age horror story of popular culture out of control.

4) The Decline and Fall of the Roman Empire by Sir Edward Gibbon - English prose of an elegance unknown to the writers of our time, Gibbon chronicles "the triumph of barbarism and religion."

5) A History of Soviet Russia by Adam Ulam - The definitive word on the Soviet nightmare gratefully now over.

6) The Guns of August by Barbara Tuchman - Captures well the old order immediately before the First World War as it prepared to commit suicide.

7) 1984 / Animal Farm by George Orwell - Hardly needs acknowledgment.

8) The Rise and Fall of the Third Reich by William L. Shirer - Unerringly accurate account of the Third Reich is journalism at its best, Shirer mercilessly details the malevolence and folly of Hitler and his Germany.

9) Bread and Wine by Ignazio Silone - Salvation and justice in the revolutionary "vanguard élite."

10) The Clash of Civilizations and the Remaking of the World Order by Samuel P. Huntington -I hugely disagree with much of what he says, but the book still makes for topical and interesting reading. (Nota PRA: EU também estou em desacordo com a maior parte das teses e da própria metodologia analítica de Huntington, mas as questões que ele coloca são reais, e merecem discussão.)

Quem é Rich Geib?. Transcrevo de seu site: “I am a lover of books and reading and writing perhaps more than anything else; there is no holier place in the world for me than a bookstore.” Acho que ele acertou...

Lista copiada do link: http://www.rjgeib.com/2000/2000.html
Acesso em 16 janeiro 2006

166) Um Kissinger spengleriano, perdido no limbo de Dante...


Uma citação, de um realista convencido, ainda em sua juventude:

"Life involves suffering and transitoriness. No person can choose his age or the condition of his time. The past may rob the present of much joy and much mystery. The generation of Buchenwald and the Siberian labor camps cannot talk with the same optimism as its fathers. The bliss of Dante has been lost in our civilization."

Henry A. Kissinger, “The Meaning of History: Reflections on Spengler, Toynbee and Kant”, senior thesis at Harvard College (1950).

Informação sobre o Kissinger, constante da edição de 24 de janeiro de 2002, do jornal The Tribune (Chandigarh, India):

Dr Henry A. Kissinger

The selection of Dr Henry A. Kissinger as the world’s top public intellectual from a list of 100 is indeed a rare honour for the 79-year-old scholar-statesman. Considering the fact that those challenging him for the top place included luminaries such as Salman Rushdie (who got ninth place in the list), George Orwell (11th), George Bernard Shaw (17th), John Kenneth Galbraith (69th) and Alexander Solzhenitsyn (72nd), Dr Kissinger’s achievement is magnificent.

The list entitled “Public Intellectuals: A Study in Decline” has been compiled by a US federal judge, Mr Richard Posner, who used the Internet to count the number of media mentions of anyone who expressed himself on matters of general public concern between 1995 and 2000.

Born on May 27, 1923, in Furth, Dr Kissinger hails from a poor family. When his father, Mr Louis, a school teacher, was dismissed by the Nazis, he fled with his parents from the Nazi Germany to the USA before the outbreak of World War II. He was a brilliant student and did well in the examinations through hard work and perseverance — the qualities for which he has been known till date. In 1950 he got BA (Honours) degree. His 377-page honours thesis entitled “The meaning of History: Reflections on Spengler, Toynbee and Kant”, prompted Harvard University to set a future limit of 150 pages for honours thesis. He did MA in 1952, followed by Ph.D in 1954. For his Ph.D thesis, he analysed the fashioning of political order in Europe in the post-Napoleonic period, in particular how the Austrian and English statesmen, Metternich and Castlereagh, managed to create a generally enduring peace for the 19th century.

After he joined the faculty of Harvard University, both in the Department of Government and at the Centre for International Affairs, he came in contact with world leaders. This, in a way, shaped his eventful career in the next three decades. He became the Secretary of State on September 22,1973, the year in which he also got the Nobel Prize for Peace. He is the first naturalised US citizen to hold this post. Though he was fourth in the line of succession to the Presidency, the American Constitution barred him from that post as he was a Jew by birth and not a native-born American.

Dr Kissinger wrote several books on foreign policy, international affairs and diplomatic history. His two books — “The White House Years” and “The Years of Upheaval” — are treated as standard reference by students of international politics.

Arguably the USA’s most effective foreign policy architect, Dr Kissinger remains a 21st century realist. He is deeply steeped in theories of international relations and the interactions of governments. He was in New Delhi last week in his capacity as a leading member of the Aspen Strategy Group (ASG), a think tank founded in 1984, to “educate himself on Kashmir and not to push through any politics”. The fact that the Government of India had accorded almost the same treatment to him as that of the present US Secretary of State, Mr Colin Powell, who was also in Delhi, shows the importance the Indian leaders attach to Dr Kissinger’s views on matters of policy.

domingo, 15 de janeiro de 2006

165) Resultados antecipados do Foro de Caracas: um exercício de futurologia garantida...


A partir do dia 24 do corrente mês de janeiro de 2006, anti-globalizadores de toda a América Latina estarão reunidos em Caracas, unidos na caótica cacofonia globalizada que costuma marcar esse tipo de encontro do Fórum Social Mundial (agora em formato “policêntrico). Nunca, tanta gente junta dispensará tanto esforço para gritar em conjunto contra a globalização e o neoliberalismo e proclamar que um “outro mundo é possível” (agora, na nova modalidade, uma outra América Latina também...).
Como sempre, estarei aguardando – já são longos anos que espero – que, ao final desse novo encontro, nos digam quais são, exatamente, os tais caminhos alternativos à globalização capitalista e à economia de mercado, quais são o perfil, o conteúdo e a forma de organização desse outro mundo prometido. Confesso que tenho uma leve (mas cada vez mais pesada) suspeita de que nada de concreto emergirá desse novo encontro, mas gostaria de dar um crédito de confiança ao pessoal anti-globalizador, esperando que eles nos apresentem, finalmente, pelo menos o contorno, a primeira arquitetura desse novo mundo anunciado repetidamente há tantos anos. Não é possível, finalmente, que tantos universitários em assembléia, tanta inspiração no meio de alguma transpiração, tantos cérebros ativos e mobilizados não consigam produzir algo de minimamente racional sobre os fins pretendidos pelo movimento.

Em todo caso, desta vez resolvi não esperar o fechamento do encontro e a apresentação das conclusões. Vou eu mesmo apresentar algumas resoluções que estou certo resultarão do piquenique de Caracas, prometendo conferir em fevereiro a lista das conclusões que dali emergirão, para confrontá-las com as minhas. Na capital venezuelana, a vanguarda da anti-globalização aprovará, aclamará, confirmará as seguintes contribuições para nossa atenta leitura:

1) A globalização produz inevitavelmente crises econômicas, desigualdades sociais e retrocessos políticos, como “demonstrado” pela distância cada vez maior entre pobres e ricos (países e indivíduos), pelo aumento da concentração de renda, pelo desemprego e pela arrogância imperial da única superpotência global.

2) O imperialismo e suas receitas neoliberais – como as do “consenso de Washington” – têm produzido estagnação econômica e colapso em países da América Latina, em virtude de sua adesão acrítica e incondicional às políticas neoliberais; as políticas do FMI estão causando recessão e retrocessos sociais em quase todos os países da América Latina.

3) A soberania nacional precisa ser defendida contra o projeto imperialista de uma zona de livre comércio hemisférica, imposta contra a vontade dos povos latino-americanos pelo capital monopolista americano, que pretende nivelar o terreno para criar um espaço econômico ampliado para a “acumulação ampliada de capital”.

4) Deve-se defender a legitimidade de políticas públicas de “reserva de mercado” e de apoio a uma “agricultura multifuncional”, garantindo a segurança alimentar e a soberania na definição de políticas setoriais de desenvolvimento nacional.

5) O racismo, a discriminação contra a mulher, a opressão dos povos periféricos e o próprio terrorismo fundamentalista são o resultado da globalização e de um processo histórico marcado pela ocupação imperialista, que insiste em preservar “estruturas de dominação”, inclusive mediante o “terrorismo de Estado”.

6) Mas, como demonstrado pelo encontro de Caracas (como antes em Porto Alegre), um outro mundo e uma outra América Latina são possíveis; políticas alternativas são, não apenas desejáveis como, absolutamente necessárias. Essas políticas passam pela vida antes do lucro e pela promoção dos direitos humanos à frente dos direitos do capital. Os fluxos especulativos desse parasita social que é o capital financeiro internacional devem ser adequadamente controlados e tributados, se possível pela aplicação universal da Tobin Tax.

Essas são, em síntese, algumas das conclusões e resoluções que resultarão do rendez-vous de Caracas.
Não acreditam? Vamos marcar novo encontro no início de fevereiro neste mesmo espaço para verificar a lista das resoluções (se houver). Podemos também proceder a uma comparação com os debates do Fórum Econômico Mundial (dos capitalistas de Davos).
Meu slogan do momento seria: um outro Fórum é possível...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de janeiro de 2006

164) Democracia e socialismo: a quadratura do círculo


Tarso Genro, advogado, ex-prefeito de Porto Alegre pelo PT, ex-ministro da Educação no governo Lula, ex-presidente interino do PT e atual candidato a alguma coisa neste mesmo governo – acho que a ordem cronológica correta é essa mesma -- é, provavelmente, a figura mais próxima do que se poderia chamar de “filósofo oficial” do PT, ou então, se ele preferir, um “intelectual orgânico” da classe operária, muito embora seja um fato que ele não acredita mais no papel do proletariado enquanto classe redentora da humanidade.
O problema dos intelectuais orgânicos é que, em geral, eles são muito prolixos, para não dizer chatos, preferindo estender-se sobre um número infindável de páginas para transmitir-nos aquilo que eles poderiam dizer em poucas páginas, ou mesmo em poucos parágrafos ou, quem sabe até?, em poucas palavras. Intelectuais inorgânicos também podem exibir as mesmas características, estou certo, mas é nos orgânicos que elas revelam todo o seu potencial complicador.
Retiro esta conclusão da leitura, algo enfadonha confesso, do último texto “conceitual” – concedamos-lhe esta caracterização – que ele acaba de divulgar em seu site, um catatau de nada menos do que 32 páginas, como ele informa alegremente.
Trata-se do artigo “É possível combinar democracia e socialismo?” que encontra-se disponível no site do múltiplo personagem, mais especificamente neste link, com data de 9 de janeiro de 2006.

Consciente de que seus colegas e companheiros talvez relutassem em ler 32 páginas de pura abstração socialista, nosso filósofo preparou um resumo de “apenas” seis páginas, colocando no dia 12 de janeiro de 2006 no site oficial do PT (neste link).
Dele tomei conhecimento no dia 15 de janeiro de 2006 e, talvez por espírito masoquista, fui buscar também o original para conferir. Como não pretendo submeter os frequentadores deste Blog a corvéia tão áspera, resolvi tentar uma síntese experimental em torno do “espírito” desse texto. Aos leitores de julgar se minha obra deixa a desejar em relação ao original, que pode ser conferido nos links acima informados.

Síntese livre do texto de Tarso Genro sobre democracia e socialismo

(esforço realizado: de 32 páginas para meia página)

A democracia ainda é atual. O socialismo tentou ser democrático mas falhou tremendamente na empreitada, e só produziu arremedos de democracia, quando não ditaduras abertas ou totalitarismos inaceitáveis.
Conciliar um com o outro representa, portanto, a quadratura do círculo, mas já que criamos um partido que se pretende socialista, vamos perserverar nessa tentativa de acomodação, continuando a proclamar, urbi et orbi, que essa idéia é possível.
Como o socialismo é uma “generalidade abstrata, hoje carente de paradigmas históricos”, tudo é permitido, inclusive manter a ilusão dos nossos militantes e inculcar no distinto público a crença de que, a despeito dos equívocos acumulados até aqui – tanto pelos regimes que se pretenderam socialistas, como por nosso próprio partido e seus famosos “recursos não contabilizados” --, essa entidade metafísica chamada “socialismo democrático” pode um dia tornar-se realidade.
Mas, cá entre nós, como não é mais possível “combinar um projeto de revolução democrática com a retomada, no longo curso, da utopia da igualdade social, aberta pela idéia do socialismo moderno”, o PT está inexoravelmente perdendo sua importância histórica. Concluindo: a coisa para nós está preta…

Créditos pela transcriação do espírito do texto:
Paulo Roberto de Almeida (em 15 de janeiro de 2006)

163) Embates em torno do Império: o déjà-vu da CIA...


Novos capítulos do dossiê Moniz Bandeira vs Primeira Leitura, transcritos no meu Blog acessório.

Entra em cena, desta vez, a CIA, a onisciente e omnipresente agência de inteligência -- será mesmo? -- dos EUA, que já foi acusada de todos os golpes e de todas as patifarias possíveis, inclusive no nosso Brasil.
A CIA pode estar por trás, segundo o professor Moniz Bandeira, de uma encomenda, a um filósofo brasileiro, de uma resenha desfavorável ao livro do primeiro sobre a formação do Império americano. Mas, o editor da revista que publicou a resenha faz troça da acusação e sugere, por sua vez, que a CIA passe a lhe pagar um "mensalão", para, pelo menos, justificar a acusação.

Leia ambas as peças deste dossiê -- que continuará em próximos capítulos, certamente -- nos dois links abaixo do meu Blog de textos:

Primeiro, as acusações do professor Moniz Bandeira, em entrevista concedida ao site do PT.

Agora, os comentários do editor da revista Primeira Leitura, Reinaldo Azevedo, que publicou a resenha que pode ter sido encomendada pela CIA, segundo o professor Moniz Bandeira.


Estarei atento a novos desenvolvimentos deste affair, por enquanto apenas bilateral, mas que promete transformar-se em peça jornalística e, quem sabe até?, em matéria judicial.

sábado, 14 de janeiro de 2006

162) Encore un belge, cette fois-ci expatrié...


Simon Leys é um belga singular. No auge da Revolução Cultural chinesa, quando todo mundo na esquerda se encantava sobre a capacidade dos dirigentes chineses de aprofundar o processo de transformação social e cultural naquele imenso país, criando o "verdadeiro socialismo" -- diferente, em todo caso, da sua variante soviética, burocrática, gerontocrática e quase esclerosada --, ele publicou um livro devastador sobre os crimes cometidos contra os direitos humanos e contra a inteligência, tout court, naquele império totalitário. Foi "Les Habits Neufs du Président Mao" (1971).

Simon Leys, na verdade, é o "nom de plume" de Pierre Ryckmans, nascido na Bélgica mas residente na Australia desde 1970, onde ele foi professor de estudos chineses na Universidade de Sydney (de 1987 até 1993). Ele conduziu um trabalho exemplar de sinólogo e de crítico literário.
Não contente, ele ainda se dedicou ao que se poderia chamar de "apócrifo histórico", como uma deliciosa memória de Napoleão. De retorno de Santa Helena clandestinamente -- um oficial quase sósia tomou o seu lugar, mas esse falso Napoleão morre no intervalo da viagem de volta à "glória" do verdadeiro Napoleão --, ele tenta provar aos seus concitoyens de Paris que ele era, de verdade, o grande imperador. Terminou amasiado com uma dona de épicerie, viu va de um dos seus oficiais em Waterloo... Uma história deliciosa que acabou virando filme: "La Mort de Napoléon" (1991).

Ele é membro da Australian Academy of Humanities e da Académie Royale de Litterature Française (Bélgica). Entre seus outros livros, se encontram "Chinese Shadows" (1977), uma nova tradução dos "Analectos" de Confucio (1997), "The Angel and the Octopus: Collected essays 1983 - 1998" (1999) e "Protée et autres essais" (2001).
Ele acaba de publicar um novo livro, de citações de terceiros, como informa esta nota do Le Monde.

Les idées de Simon Leys
par Eric Fottorino
LE MONDE | 14.01.06

Le titre de cet opuscule est déjà tout un programme. Cela s'appelle "Les Idées des autres, idiosyncratiquement compilées par Simon Leys pour l'amusement des lecteurs oisifs" (Paris: Plon, 2006). Le célèbre sinologue, par ailleurs fou de mer, a rassemblé là un florilège de citations choisies de la manière la plus subjective qui soit, en miroir de sa propre personnalité. On ne s'étonnera pas d'y trouver des phrases comme :
"Là où il n'y a pas de mystère, il n'y a pas de vérité" (Brecht),
ou
"Le secret d'ennuyer, c'est de tout dire" (Voltaire)...

Éric Fottorino
Article paru dans l'édition du 15.01.06

161) L'amour a ses raisons, même en Belgique...


A Bélgica é um reino tripartite, um território que, como a sua bandeira, é ocupado por três tribos de ferozes belgicanos, que conseguem se digladiar por um simples copo de cerveja: os valões brigam com os flamengos (não confundir com os nossos), e vice-versa, e os bruxelenses, à falta do que fazer, se dedicam à plantação de "choux de Bruxelles"...

Desde que eu morei nessa terra de belicosos nativos, uma tribo não fala com a outra, a não ser por meio dos seus respectivos ministros "inter-comunitários" (é a única monarquia do mundo em regime federativo...)
Pois bem: não é que agora, como relata o Le Monde deste sábado 14 de janeiro de 2006 (ver abaixo), o chefe do partido liberal flamengo namorou secretamente uma deputada socialista valona (ou valã, vocês escolhem...) e não contente de só ter abraços e de trocar carinhos e beijinhos sem ter fim, ainda acabou lhe fazendo um filho?

Será o primeiro nativo a romper a barreira do apartheid, mas, logo ao completar a maioridade, ele terá um sério problema de identidade: ele precisará não apenas escolher a qual cor da bandeira prestar juramento, mas também sua coloração política e tribal: ele terá de decidir se vai ser socialista valão, ou liberal flamengo, ou socialista flamengo, ou liberal valão, ou então um anarquista bruxelense.
Cruéis dilemas para esse filho inter-comunitário: melhor ele fundar uma nova tribo, com a sua própria fábrica de cerveja...


Belgique : l'idylle fatale du chef du Parti libéral flamand
LE MONDE | 13.01.06 | 13h51
Correspondant, Bruxelles

Un quotidien francophone a révélé la relation amoureuse qu'entretient Rik Daems, ancien ministre et chef du parti libéral flamand (VLD) à la Chambre des députés, avec Sophie Pécriaux, députée socialiste wallonne.
Un peu plus tard, une chaîne de télévision flamande annonçait que la jeune femme était enceinte. Situation délicate pour le leader d'un parti flamand qui n'a jamais raté une occasion de critiquer les Wallons.

Après ces révélations, M. Daems a décidé de renoncer temporairement à ses fonctions, "pour réfléchir". Les observateurs estiment qu'il aura les plus grandes difficultés à poursuivre sa carrière. Dans les rangs du parti, on estime que la crédibilité de M. Daems est entamée. Mais surtout et même si cela ne s'avoue pas on supporte mal sa relation avec une représentante d'un parti qui est la bête noire des médias flamands.

La direction du PS francophone a réagi avec flegme et humour. Elio Di Rupo, le président du parti, a estimé que cette histoire d'amour établissait "un lien entre la Flandre et la Wallonie, entre le PS et le VLD". Deux partis ennemis, mais qui sont actuellement réunis dans une coalition fédérale.

Jean-Pierre Stroobants
Article paru dans l'édition du 14.01.06

160) Pelamô de Deus, minha gente!: o carcará não só ataca, mas ele canta também...


Serviço de (des)utilidade pública: transcrevendo a letra do primeiro (esperando que ele seja o último) hino da ABIN (já que colocar também a música seria demais...):

"Nós somos da inteligência brasileira
Anônimos heróis na busca da verdade.
Servir sempre em silêncio temos por bandeira
E à pátria consagramos nossa lealdade".

(estribilho):
"A Abin é a luz forte que dissipa a escuridão,
Desfaz as incertezas e desvenda o sorrateiro.
A Abin, que, aliada aos seus parceiros de sistema,
É a linha invisível de defesa do Estado brasileiro!"

"Cumprimos nosso dever quer noite ou dia,
Buscando e analisando em prol da produção
De um conhecimento, a arma dos mais fortes,
Por isso, protegê-lo também é missão".

"Salve! Salve! a nossa Pátria brasileira!
Orgulho temos nós em tê-la num altar,
Onde a inteligência com que a protegemos,
Por certo, é um componente que a faz avançar..."

(PS.: Como eles atuam em surdina, pelo menos estamos livres de, em alguma cerimônia pública, ter de ouvir este deplorável hino. Nem os parnasianos seriam capazes de tantos malabarismos verbais. Vamos ter de ressucitar a escola gongórica...)

159) Já nao se fazem mais comunistas como antigamente...


Decididamente, o mundo mudou. Nos tempos da Guerra Fria, comunista de verdade era um cidadão geralmente de posses modestas que, por nada neste mundo (e eles não acreditavam em nenhum outro), se metia em falcatruas, patifarias, roubalheiras, negócios escusos, e passavam longe de qualquer assunto de corrupção.

Eram incorruptíveis, ainda que dispusessem (mas sem isso era impossível ter o partido funcionando) do famoso "ouro de Moscou" (que nunca foi ouro de verdade, essa relíquia bárbara, mas sim dólares, verdinhos, tangíveis). Esses "recursos não contabilizados" recebidos da finada União Soviética eram escrupulosamente aplicados na conscientização da classe operária e na compra de cadernetas para o Secretário-Geral Luis Carlos Prestes. No mais, eles viviam modestamente, rodando "A Classe Operária" em mimeógrafos a álcool, ambos pagos, o mimeógrafo e o álcool, com as contribuições dos militantes e afiliados, que, igual ao dinheiro do jogo do bicho, eram pagas em espécie, religiosamente (se o termo se aplica).

Rico mesmo, só o Oscar Niemeyer, que continua rico e comunista, mas ele é único no gênero, sendo propriamente uma peça viva de museu: o último stalinista vivo do planeta (agora que morreu o Álvaro Cunhal, do Partido Comunista Portugês).

Agora tudo mudou e nem mais ateus, de verdade, esses comunistas fajutos conseguem ser: outro dia estava o Aldo Rebelo, do PCdoB, pedindo pelo amor de Deus para dois deputados não se engalfinharem em plenário...

Escrevo tudo isto a propósito da notícia abaixo transcrita, sobre as falcatruas de um comunista, rico ainda por cima. Esse deputado João Hermann era conhecido por seu radicalismo verbal e seu gosto por um rabo de saia. Agora se descobre que ele também, por mais comunista que fosse, também molhava a mão numa boa propina empresarial. Logo ele que, milionário (segundo consta da reportagem), não precisava fazer isso.
Deve ser o tal de Zeitgeist, o espírito da época: como até o partido da ética se lambuzou todo nas tais práticas heterodoxas, não se poderia mesmo esperar que um mero comunista fosse permanecer incólume, em face de tanto dinheiro correndo solto no Congresso e nos gabinetes de políticos...

Da Veja on-line:
"Deputado recebeu R$ 79.000 de empresa
13 de Janeiro de 2006

A empresa de aviação Beta (Brazilian Express Transportes Aéreos), suspeita de manter contratos irregulares com os Correios, fez 25 pagamentos mensais, entre 2003 e 2005, para uma conta bancária aberta em nome do deputado federal João Herrmann Neto (PDT-SP). O total acumulado atinge 79.000 reais.
Nesta sexta-feira, a direção nacional do PDT suspendeu a filiação do deputado. Em nota, o partido diz que, se forem confirmadas as acusações, Herrmann será expulso definitivamente.

A empresa Beta teve o sigilo quebrado pela CPI dos Correios. Segundo a Folha de S. Paulo, os primeiros pagamentos foram de 3.000 reais, sendo corrigidos até 3.800 (na última quitação). O dinheiro saiu de uma conta da Beta no banco Safra de São Paulo e parou numa conta aberta em nome do deputado no Citibank.

Herrmann não quis comentar os depósitos, de acordo com a Folha. O pedetista, aliado do governo Lula, é um dos parlamentares mais ricos do Congresso. Em 2000, declarou um patrimônio de 110 milhões de reais, perdendo só para o deputado Ronaldo Cézar Coelho (PSDB-RJ), com patrimônio declarado de 249 milhões de reais. Herrmann costuma dizer que sua fortuna pessoal é fruto de negócios familiares relacionados ao agronegócio.

O deputado foi um dos principais nomes do PPS desde a sua criação e passou para o PDT em 2004. Até janeiro daquele ano, o Ministério das Comunicações e os Correios eram controlados pelo PDT. O parlamentar votou contra a criação da CPI dos Correios. "A CPI é uma ferida maltratada, uma porta de entrada para infecções", disse Herrmann, em maio, segundo a Agência Câmara."

Onde vamos parar? Se até velhos comunistas começam a roubar e a se corromper, vamos ter de recriar o Gulag, onde só tinha comunista de castigo...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

158) O império americano: do livro para um tribunal?


O professor Luiz Alberto Moniz Bandeira publicou, em 2005, seu livro Formação do império americano: Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque (Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira).

Em atenção ao renome do autor e à possível importância da obra (que confesso ainda não li, mas pretendo fazê-lo um dia), publiquei, em meu Blog auxiliar, uma resenha favorável a esse livro, a transcrição de uma entrevista com o autor, ambas constantes do boletim eletrônico Espaço Acadêmico, e, também, uma resenha fortemente crítica desse livro, pelo filósofo Roberto Romano, publicada na revista mensal Primeira Leitura, todas matérias do mês de dezembro de 2005.

Pretendia parar por aí, mas eis que tomei conhecimento, por matéria publicada no dia 12 de janeiro de 2006 no site desta última revista, por seu editor, Reinaldo Azevedo, que o professor Moniz Bandeira enviou-lhe carta de 25 páginas exigindo direito de resposta, à falta do que ameaça, por meio de seus advogados, processar judicialmente a revista e o seu editor.
Para oferecer aos leitores deste Blog um dossiê completo deste affair, ainda não concluído, forneço abaixo os links para a leitura desses materiais.

Primeiro, as resenhas, a favor e contra, além da entrevista com o autor:
31) O Império americano: a favor ou contra?

Agora, o início de uma diatribe, que promete ocupar outros posts no futuro:
32) O Império americano: agora nos tribunais...

Tentaremos acompanhar novos desenvolvimentos deste affair político-literário, que ameaça mobilizar a République des lettres como nenhum outro caso o fez desde uma velha diatribe pelos jornais entre o crítico literário e diplomata José Guilherme Merquior (já falecido) e a filósofa Marilena Chauí...

157) Você falou em pátria?


Existem, obviamente, muitas definições de pátria, tantas quanto de país, nação, Estado, povo etc.
Em geral, todas têm conotações positivas, quando não francamente "patrioteiras"...

Pois eu queria referir-me a uma reflexão que não é necessariamente favorável à noção de pátria ou a suas conseqüências no terreno prático.
O excesso de patriotismo pode estimular a intolerância, como lembra o filósofo espanhol Fernando Savater em seu livro:
Contra las Pátrias (2ª ed.: Barcelona: Fabula Tusquets Editores, 2000; 1ª ed.: 1984).

Desse livro, retiro estas duas frases, ambas sugestivas:

El patriotismo es la menos perspicaz de las pasiones: Jorge Luís Borges (Ficciones)
Patria est, ubicumque bene est (A pátria está onde estejamos bem): Sêneca

Esta última não deixa, de certo modo, de lembrar o lema do Barão do Rio Branco:
Ubique patria memor (Em qualquer lugar, a memória da pátria).

156) Anos JK: documentos disponíveis no CPDOC


Não se trata de nostalgia ou qualquer culto aos chamados "anos dourados", que só o são retrospectivamente, comparados com os anos de inflação e de instabilidade política que se seguiram e, depois, o mergulho na era militar.
Mas vale a pena, para os que gostam de história, chamar a atenção para este alerta do Centro de Pesquisa e Documentação Contemporânea, da FGV-RJ, sobre documentos históricos da era JK:

"Visite em nosso Portal, a página "Os anos JK", na qual foram disponibilizados cerca de 250 textos biográficos e temáticos que recuperam figuras de destaque daquele importante período, como Jango e Lott, e temas relevantes como o Plano de Metas e a construção de Brasília. São apresentados ainda cerca de 100 fotos e documentos textuais e uma seleção de depoimentos de atores políticos do acervo de História Oral do CPDOC."

Acesse em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk

155) Tangenciando o propinoduto antes do tempo?


Transcrevo, do livro do ex-presidente interino do PT, ex-ministro da Educação, ex-candidato derrotado ao governo do estado do Rio Grande do Sul, ex-prefeito de Porto Alegre e atual candidato a uma vaga no STF, advogado Tarso Genro, Esquerda em Processo (Petrópolis, RJ: Vozes, 2004), o seguinte trecho, aparentemente (e involuntariamente) profético:

"O que ocorreu de negativo no Partido Socialista Espanhol, com vários dos seus quadros indo parar nas prisões por motivos que conhecemos [corrupção], deve servir de referência negativa para nós [do PT e do governo]. Assim como deve servir de referência positiva - do ponto de vista ético-moral - a passagem praticamente "limpa" [por que as aspas?] do ex-Partido Comunista Italiano na 'tangentópoli' [corrupção e caixa 2 dos politicos italianos nos anos 1990] ocorrida naquele país. Assim foi denominado o processo de investigação, denúncia e condenação judicial, de boa parte da elite política italiana, envolvida com obtenção de fundos para o financiamento ilegal das suas atividades eleitorais e partidárias e, igualmente, para proveito pessoal".
(do capítulo 10: "Glossário para uma 'esquerda democrática' (no governo e fora dele)", p. 105 do referido livro)

Como se diz, ninguém é profeta em seu próprio país, mas, neste caso, o autor não apenas tangenciou o problema, como antecipou o que poderia vir a ocorrer. A julgar pelo que se conhece do tsunami político de 2005, não se tratou de uma mera tangentópoli, mas de um propinoduto completo e acabado.
Qualquer semelhança com fatos, personagens ou ocorrências observadas em outras latitudes e longitudes não não deve ser mera coincidência...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

154) Perguntas impertinentes a colegas que me acusam de ser “liberal fundamentalista”


Segundo me confidenciaram alunos, de alguns cursos de relações internacionais espalhados pelo Brasil, colegas pesquisadores nessa área, incomodados com as críticas que venho fazendo, desde muitos anos, aos movimentos anti-globalizadores, chegaram a classificar-me de “liberal fundamentalista”, ou vice-versa, o que redunda no mesmo, pois em nenhuma das hipóteses é possível saber exatamente do que eles estão falando.

Se há algo que eu não sou, justamente, é fundamentalista, pois que sempre fui e continuo partidário de uma abordagem essencialmente pragmática dos temas econômicos, como de todo o resto aliás, sendo bastante tolerante, para quem veio do pensamento de esquerda e do marxismo universitário, com todos os tipos de “religiões” políticas e filosóficas, terreno no qual, aliás, professo uma “irreligiosidade” absoluta.
Tampouco posso ser catalogado de “liberal”, na medida em que não tenho nenhum respeito por qualquer dogma político ou econômico e confesso apenas um anarquismo exemplar no plano cultural e das idéias.
Isso me faz indagar quem, de verdade, ostenta “pensamento único”, rótulo que os anti-globalizadores atribuem aos supostos liberais partidários da economia de mercado, quando estes últimos se dividem em tantas escolas de economia e de orientação política quantas são as religiões e ideologias em que se divide o mundo.

O rótulo me faz sorrir, pois indica que certas pessoas, das quais se espera, finalmente, um pouco mais de espírito acadêmico, hesitam em, quando não se recusam a, debater idéias e argumentos, preferindo catalogar os indivíduos que delas discordam, a propósito de temas concretos, e daí dão por encerrada a discussão, como se estivessem batendo a porta na cara de supostos (ou reais) opositores de suas idéias (se de fato ostentam algumas).
A academia herda, supostamente, seus métodos de trabalho da antiga tradição socrática do contraditório e da busca da verdade, o que pode e deve ser buscado no plano da lógica, mas também, e sobretudo, segundo o velho legado baconiano da comprovação empírica, da exposição honesta dos fatos e das conclusões e inferências que possam resultar dessa busca incessante de explicações razoáveis para as evidências de que dispomos para tal ou qual problema concreto da natureza ou da sociedade.

Isso me ocorreu ainda poucos dias atrás, quando escrevi, aliás gentilmente, a uma dessas sumidades universitárias, precisando-lhe a natureza puramente objetiva da decisão adotada por determinado país da América do Sul em não aderir à união aduaneira do Mercosul, esclarecendo que se tratava antes de incompatibilidade tarifária, razão portanto factual e concreta, e não de supostas “pressões dos EUA”, como ele argumentava.
Depois de idas e vindas nos elementos concretos em torno das quais se fundamentou a decisão desse país, meu interlocutor deu por encerrada a discussão dizendo que não pretendia, nem tinha tempo – “não quero e não tenho tempo”, disse ele – para discutir comigo, o que em matéria de troca de mensagens eletrônicas é o mesmo que bater a porta na cara.

Eu não fico chateado com esse tipo de atitude, que apenas indica que o parceiro, como diriam os franceses, está à court d’arguments, ou seja, lhe faltam argumentos para o debate e por isso dá por encerrada a discussão.
Como, de minha parte, nunca dou por encerrada qualquer discussão – pois sempre considero que os argumentos devam ser todos expostos, para que do debate possa surgir algum esclarecimento mais completo em torno do problema que nos ocupa –, gostaria de continuar esse exercício em torno das supostas idéias liberais, de um lado, e anti-globalizadoras, de outro, propondo algumas perguntas a esses meus colegas de academia que eles estão gentilmente convidados a responder.

A esse propósito, justamente, um deles já argumentou que eu não sou acadêmico – por não retirar meu sustento ou não ter como atividade principal a docência universitária – como se isso fosse critério de inclusividade na categoria e como se esta devesse recrutar única e tão somente os “dedicados integrais”, cuja dedicação exclusiva e cuja “integralidade”, aliás, deixam por vezes a desejar.

Tenho plena consciência de que meus esforços são absolutamente unilaterais, pois que nunca obtive resposta ou contestação a meus muitos escritos “anti-globalizadores” – muitos deles absolutamente provocadores, não hesito em confessar –, mas pretendo ainda assim continuar no terreno de luta, armado unicamente de meus instrumentos habituais: os argumentos como elementos essenciais do discurso, a lógica como método irrecusável e a sustentação empírica e as evidências históricas em apoio fático às minhas afirmações e propostas.

Voilà, tendo feito esses prolegômenos necessários, vamos às perguntas:

1. Quais são as evidências materiais, ou seja, provas estatísticas, dados quantificáveis, observáveis e verificáveis, de que a globalização, como pretendem os anti, aprofunda a miséria, cria mais desemprego e acarreta mais desigualdades no mundo? Isso vale tanto para dentro dos países, como entre os países, esclareço.

2. Se as políticas liberais só conseguem produzir recessão e desemprego, privilegiando unicamente os setores financeiros – o capital financeiro monopolista internacional, como se dizia antigamente –, por que, exatamente, os países que mais crescem e que ostentam as menores taxas de desemprego são, justamente, esses ditos “neoliberais”?

3. Se o “consenso de Washington” fracassou redondamente na América Latina, por que os países que mais são contrários às suas regras não são, longe disso, exemplos de crescimento, de dinamismo e de inserção competitiva na economia internacional? E por que, a contrário senso, os países que mais se identificaram com essas medidas “neoliberais”, a começar pelo Chile, conseguem ostentar taxas sustentadas de crescimento ao mesmo tempo em que fazem progressos no caminho da redução das desigualdades distributivas e da qualificação competitiva de suas economias?

4. Se os processos de abertura econômica e de liberalização comercial significam, ipso facto, sucateamento da indústria e desmantelamento de setores inteiros da economia nacional, como explicar as evidências de que países que adotaram essas medidas de modo unilateral, como o Brasil do início dos anos 1990, por exemplo, registraram, nesses anos justamente, as maiores taxas de crescimento da produtividade, além de ganhos significativos e comprovados de competitividade internacional?

5. Se as regras liberais impõem, como acusam os anti-globalizadores, total liberdade aos movimentos de capitais e a plena abertura cambial, o que facilitaria as atividades especulativas nos mercados de divisas, como explicar o fato que de que a Argentina, no auge do seu “fundamentalismo liberal”, impunha a rigidez cambial, em direção oposta aos regimes cambiais praticados pela maior parte dos países e contrariamente ao que sempre prega o FMI em caso de correção de desequilíbrios de balanço de pagamentos?

6. Se a flexibilização neoliberal do mercado de trabalho produz desemprego e perda de direitos consagrados, resultando em precarização ampliada das relações de trabalho e terceirização, por que os países que mais adotaram essa postura são os que exibem as menores taxas de desemprego e o maior crescimento da produtividade do trabalho?

7. Se o livre-comércio internacional acarreta desigualdades crescentes e dependência de empresas multinacionais, o que compromete políticas públicas, macroeconômicas e setoriais, por que os países, ou melhor, as economias que mais se inseriram nos fluxos internacionais de intercâmbio comercial são as que melhoraram de padrão de vida, viram o surgimento de suas próprias multinacionais e diminuíram, justamente, sua dependência de alguns poucos mercados de matérias-primas ou manufaturados leves, que são dominados por alguns poucos oligopolistas mundiais?

8. Se os direitos de propriedade intelectual são inerentemente injustos, transferindo renda dos países mais pobres para os mais ricos, condenando os primeiros a uma “eterna dependência tecnológica” dos segundos, por que países como China e Índia, que são ainda relativamente pobres para os padrões internacionais, estão aderindo de forma crescente a normas mais elevadas de proteção patentária?

9. Se os investimentos estrangeiros são criadores de maior dependência econômica e de remessa ampliada de divisas e de royalties para o exterior, por que tantos países em desenvolvimento vêm aumentando o volume e a qualidade da proteção dada ao IDE, assinando acordos de garantia de investimentos e assegurando livre transferência dos resultados produzidos?

10. Se já existem evidências concretas de que as políticas agrícolas, subvencionistas e protecionistas, de países desenvolvidos, como os EUA, a União Européia e o Japão, entre outros, são absolutamente condenáveis, em primeiro lugar em função de sua inerente irracionalidade econômica, em segundo e principal lugar em virtude do enorme prejuízo trazido aos países mais pobres, por que os movimentos anti-globalizadores, que dizem atuar em prol do desenvolvimento e da inserção dos mais pobres e do bem estar de suas populações, não são mais incisivos na oposição a essas políticas?

11. Se os países em desenvolvimento são, por definição e historicamente, importadores líquidos de capitais dos países mais ricos, por que os movimentos anti-globalizadores insistem tanto na adoção de uma taxação internacional sobre os movimentos de capitais, sabendo-se que esse novo imposto irá necessariamente aumentar o custo dos empréstimos e de captação de recursos financeiros nos mercados livres?

12. Finalmente, se mercados livres já provaram, ao longo da história, sua funcionalidade absoluta do ponto de vista da modernização tecnológica, dos ganhos de oportunidade, da distribuição de renda via especialização produtiva e outros benefícios indiretos da livre circulação de fatores, por que os anti-globalizadores, e com eles o contingente bem maior de protecionistas de todos os tipos, insistem tanto na administração política dos mercados internacionais, como se os governos soubessem melhor do que agentes econômicos ou do que os indivíduos consumidores o que é melhor para o bem estar dos cidadãos dos mais diversos países?

Voilà: deixo aqui algumas perguntas para as quais eu apreciaria muitíssimo dispor de respostas pelo menos tentativas por parte daqueles que se identificam, de perto ou de longe, com o movimento anti-globalizador.
Elas podem também servir de sinalização para o próximo encontro dos anti, a ser realizado neste final do mês de janeiro de 2006.
Respostas eventuais para a minha caixa postal, por favor...

Paulo Roberto de Almeida (pralmeida@mac.com)
Brasília, 12 de janeiro de 2006

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

153) O que faz um diplomata, exatamente?


Muito freqüentemente sou solicitado, por interessados na carreira diplomática, geralmente jovens, a pronunciar-me sobre a natureza exata do trabalho diplomático. As dúvidas são muitas e a curiosidade infinita. Ainda assim tento responder a cada um da melhor forma possível, mas novas demandas se repetem, com perguntas usualmente similares. Como exemplo típico desse gênero de questionamento, transcrevo mensagem enviada hoje (11.01.06), que tentarei responder em seguida:
“Ainda falta um pouco para eu me decidir por este caminho (a diplomacia), por isso vim lhe pedir um breve relato de um dia comum seu, em sua profissão. O que é comum encontrar nessa carreira? O que é gratificante? E quais as dificuldades? Não quero incomodá-lo, aliás tenho muito receio disso, mas, ao mesmo tempo, quero me encontrar com a certeza de um futuro inescusável. E como decifrá-lo, se não perguntá-lo? A simples informação de quanto tempo permanece sentado assinando papéis, de quanto de autonomia se tem, dentre outros aspectos congêneres; essas simples informações formam o motivo de minha interpelação.”

Pois bem, sei que existem muitas lendas em torno das atividades de um diplomata, geralmente de natureza turística ou etílica, ou seja, de que passamos o tempo viajando de um lugar para outro, em belas cidades de países desenvolvidos, participando de reuniões sofisticadas e, sobretudo, de coquetéis e recepções, um pouco como se todo mundo ainda vivesse nos tempos das cortes européias, em bailes e outras galanterias... Exagero, claro, mas o pessoal também exagera em torno da quantidade de bebida que é humanamente possível ingerir. Com exceção do Vinicius de Moraes, que vivia de copo de uísque na mão, o diplomata geralmente não bebe, salvo, claro, quando é obrigado...

Sans blague, para descrever um dia típico de um diplomata seria preciso, primeiro, distinguir entre o diplomata na Secretaria de Estado, ou seja, na sua capital, onde ele é miseravelmente remunerado, e aquele destacado para um posto no exterior, numa embaixada permanente, numa missão junto a um organismo internacional, ou em missão temporária, integrando uma delegação em alguma reunião internacional, onde ele ganha um pouco mais, mas onde ele tampouco vive nababescamente, como alguns podem imaginar.

Na Secretaria de Estado, somos perfeitos burocratas, processando informações, geralmente em formato eletrônico – como tudo o mais na vida, nestes tempos de informatização generalizada – mas também em suporte papel, muito papel. Ainda existe um bocado de formulários e memorandos nas burocracias governamentais, mais do que o necessário.
Um diplomata padrão cuida de alguns assuntos, sobre os quais possui, ou pelo menos deveria ter, domínio completo e competência reconhecida. Ele recebe um insumo qualquer – digamos um telegrama, hoje um simples e-mail, de uma embaixada, ou uma demanda de algum outro serviço – e imediatamente transforma esse tema em algum tipo de “instrução”, para a própria Secretaria de Estado, para outros órgãos do Estado ou para a missão no exterior que primeiro suscitou o problema. Essa resposta pode sair imediatamente ou requerer consultas a outras instâncias da Casa – divisões políticas, isto é, geográficas, ou econômicas, jurídicas, administrativas, etc. – ou de fora, algum órgão técnico do governo, por exemplo, ou até mesmo a entidades da chamada “sociedade civil”. Se o assunto é sério o suficiente para requerer uma decisão superior, ele é levado sucessivamente a escalões mais elevados, eventualmente até ao próprio presidente da República, que assume responsabilidade por todas as decisões maiores da política externa oficial, da qual o chanceler (ou ministro de Estado das relações exteriores) é o executor.

O gratificante, para um diplomata, é ver que uma proposta sua, emanada de seu “processamento” diligente, e inteligente, defendendo o que ele considera como sendo o interesse nacional, foi convertida em política de Estado e passa a ser defendida pelos representantes do país nos foros internacionais. As dificuldades, pelo menos no plano “psicológico”, geralmente estão ligadas à incapacidade de a instituição responsável pela política externa chegar a uma posição clara, contemplando esses interesses – mas nem sempre é fácil determinar onde está o interesse nacional –, ou então elas são derivadas do fato de que a melhor posição possível, em determinadas circunstâncias, tem de ser “contornada”, digamos assim, em função de alianças táticas ou de “competição” com outros objetivos, nem sempre muito claros.
Já nem considero aqui as dificuldades de tipo administrativo ou logístico – como a ausência de recursos materiais e humanos suficientes para executar o que se poderia considerar como a melhor diplomacia possível em todas as frentes abertas ao engenho e arte de nosso serviço exterior – ou os obstáculos propriamente “estruturais”, que são a obstrução dos fins pretendidos pelas “nossas” instruções por alguma coalizão mais forte no plano externo ou a insuficiente mobilização de aliados para a nossa causa. Isso faz parte da vida...

O diplomata na capital, ainda que fazendo parte de uma grande burocracia, dispõe de mais margem de ação e de mais autonomia do que o diplomata no posto, que tem necessariamente de seguir as instruções da capital. Mas este último também participa do processo decisório e da elaboração de posições, ao informar corretamente sobre as relações de força, sobre as posições dos demais países, sobre as alianças táticas que estão sendo desenhadas em torno de algum assunto e assim por diante.
Numa embaixada bilateral, que são os postos mais numerosos, as negociações são talvez menos freqüentes, mas aumenta o volume de informações produzidas sobre o país em questão e cresce o esforço de defesa dos interesses brasileiros em temas concretos, como comércio, investimentos, acordos de cooperação, geralmente científica e tecnológica, visitas bilaterais, bem como atividades de promoção cultural.

Coquetéis e recepções constituem parte integral do “balé” diplomático, mas esse tipo de atividade “festiva” geralmente está ligada às comemorações das datas nacionais – e isso dá para preencher quase todos os dias do ano, dependendo da capital e da respectiva rede de embaixadas, mas a freqüentação desse tipo de evento varia muito em função de “quem trabalha com aquele país” – ou então contempla a parte inicial de alguma reunião importante, com a presença de várias delegações. Almoços de trabalho – muito raramente pagos pelo serviço exterior – são mais usuais, ao passo que são mais raras aquelas recepções que nós mesmos organizamos para os colegas que conosco trabalham ou com quem convivemos por dever de ofício. Chefes de missão têm, sim, uma jornada extra, recepcionando ou participando intensamente desses eventos, para os quais se requer boa disposição de espírito, bom humor e o físico em forma...

Resumindo em poucas palavras, o diplomata, em suas diferentes funções ligadas à representação, negociação e informação, passa a maior parte do tempo pesquisando, escrevendo, processando informações, se relacionando com outros diplomatas, colegas e de outros países, bem como com funcionários de diferentes serviços, com o objetivo básico de conceber instruções e depois defender posições que reflitam o interesse nacional de seu país. É uma função, sem dúvida alguma, “nobre” e gratificante, mas também muito exigente e comportando alguma dose de desprendimento, pois por vezes as condições de trabalho, ou as da vida em família, não são as melhores possíveis (em alguns postos “de sacrifício”, por exemplo, ou até mesmo na Secretaria de Estado, onde os salários são baixos e o trabalho excessivo).

No cômputo global, creio que se trata de uma profissão invejável, pela diversidade de situações que ela permite e pelas oportunidades que cria de engrandecimento pessoal, intelectual e profissional. Os interessados em uma opinião pessoal sobre o que eu creio serem, na atualidade, as regras pelas quais deve pautar-se um diplomata, podem consultar meu ensaio preliminar “Dez regras modernas de diplomacia”, no seguinte link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/800RegrasDiplom.html; um resumo do mesmo texto, limitado às regras, foi colocado em meu Blog, post nr. 62, neste link: http://paulomre.blogspot.com/2005/12/62-dez-regras-modernas-de-diplomacia.html.
Boa sorte aos que tentam o ingresso na carreira, mas um aviso preliminar: será preciso estudar muito, antes e durante toda a carreira...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de janeiro de 2006

152) À l'Attac, sans disposer de majorité...


A ATTAC, cuja sigla significa Association pour la Tobin Tax et en Appui aux citoyens (ainda que o próprio James Tobin tenha recusado essa distinção), convida para uma mobilisation générale des citoyens contra o que eles chamam de "Europa ultra-liberal".
Eles querem manifestações na sede do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, contra a diretiva Bolkestein, que visa liberalizar os serviços em todo o território da União Européia.
Segundo a própria entidade reconhece em seu boletim, "la droite européenne est majoritaire au Parlement", mas a Attac não acha isso legítimo e pretende denegar ao Parlamento o direito de votar uma medida que liberaliza os serviços em escala européia, segundo o princípio do país de origem (PPO).

A posição da Attac é contraditória com os próprios objetivos da Europa comunitária, na medida em que, desde 1957, o tratado de Roma determinou a "livre circulação de mercadorias, de pessoas, de serviços e de capitais" (artigo 2). Por outro lado, a "estratégia de Lisboa", adotada em 2000, visa converter a UE, no horizonte 2010, na "economia do conhecimento a mais competitiva e a mais dinâmica do mundo" e a liberalização e ampliação dos mercados de serviços, setor que mobiliza perto de 70% do PIB comunitário, é fator importante nesse fortalecimento da economia européia.

Além de contraditória, essa posição é autoritária, pois se os cidadãos europeus votaram para eleger seus parlamentares, supõe-se que eles atribuiram competência a seus representantes para agir em nome deles, segundo orientações políticas defendidas durante a campanha. Argumentar agora que a diretiva é ultra-liberal, ou que ela vai beneficiar as grandes companhias multinacionais -- o que não é correto, pois serviços são flexíveis, comportam todas as gamas de atividades e podem ser prestados por todo tipo de companhia, em toda a Europa, dando chances, justamente, a pequenas companhias de pequenos países de alcançar um público mais vasto --, significa não aceitar as regras do jogo e pretender que posições minoritárias impeçam, por meio de manifestações ruidosas, a adoção de medidas que contam com claras maiorias políticas.

Se dependesse da Attac, a Europa não teria saído da Idade Média...

Quem quiser ler mais ataques da Attac ao capitalismo realmente existente e a uma suposta globalização perversa, pode consultar o site desses irredutíveis gauleses: http://attac.org/
Eles não são muito diferentes de outras tribos ruidosas que se manifestam nas redondezas...

151) Temas de política externa (5): auto-estima na diplomacia brasileira...


O Council On Hemispheric Affairs, entidade americana que, segundo sua própria definição, monitora as questões políticas, econômicas e diplomáticas afetando o hemisfério ocidental, acaba de anunciar a publicação em seu site de um artigo sobre a diplomacia brasileira sob o governo Lula.
Trata-se do artigo do pesquisador senior em política externa brasileira de naturalidade canadense Sean W. Burges, intitulado "Auto-estima no Brasil: a lógica da política externa Sul-Sul de Lula". Ele foi publicado na revista canadense The International Journal.
Abaixo um sumário em inglês desse artigo, que pode ser lido neste link.

Auto-estima in Brazil: The logic of Lula’s south-south foreign policy
Analysis prepared by COHA Senior Research Fellow Sean W. Burges, Ph.D.
Wednesday 11 January 2005

--------------------------------------------------------------------------------

In an article just published in the International Journal, the leading Canadian foreign affairs journal put out by the Canadian Institute of International Affairs, COHA Senior Research Fellow Sean W. Burges investigates the tone and intentions of the diplomatic rhetoric that has been emanating from Brazil since the 2002 lection of Luiz Inácio Lula da Silva. Burges argues that, “the Lula government in Brazil is pursuing a psychologically transformative foreign policy agenda in the global south. The goal is not to overturn or delink from the existing international political and economic system, but to prompt a change in how developing countries are inserted into and view the system.”
While the general content and intentions of Brazilian foreign policy are presented as having deviated little from the pattern established during the Cardoso presidency, the emphasis has turned slightly from seeking developed country cooperation in reforming international institutions to rebuilding developing country self-esteem, the essence of the auto-estima that lies at the core of contemporary Brazilian foreign policy. In short, “Lula is consciously attempting to reframe the development dichotomy, deliberately seeking to reshape notions of southern and Brazilian identity in the international political economy.
Rather than presenting the country as a developing state in need of aid, the emphasis is on Brazil as a complex and highly sophisticated economy and polity that is working to overcome an inequitable internal development pattern.” Significantly, leanings towards the isolationist, intra-Southern orientation of the New International Economic Order of the 1960s and 1970s are found to be absent despite the sometimes exceptionally nationalistic utterances of such key figures as Brazilian foreign ministry secretary general Samuel Pinheiro Guimarães or Brazilian National Bank for Economic and Social Development vice-president Darc Costa.
Burges thus argues that “Although idealist notions of solidarity play an important role in Brazilian diplomatic discourse, they are underpinned by a hard-edged analysis. Expansion of south-south trade and investment is an important part of Brazil’s strategy for economic expansion and development. Moreover, interest-based solidarity plays a central role in the maintenance of developing country coalitions such as the G-20 that Brazil has deployed with great effect in the WTO.”

The rise of auto-estima in Brazil and the growing sense of self-confidence it has created in the country’s foreign and domestic policies finds an international manifestation in Lula’s frequent suggestion that a new economic geography should be constructed, a proposal that has pushed the G-20 group of developing countries forward and provided the underpinning forthe evolution of the India-Brazil-South Africa dialogue forum which is now taking place with such an important potential. Emphasis is squarely on taking advantage of the opportunities that exist within developing countries and, on a competitive economic basis, exploiting the possibilities of intra-South cooperation.
Thus, “Rather than arguing that close economic ties with the north are not necessary, [Lula] suggests that they are neither sufficient nor structurally able to provide the opportunities needed for his country's sustained development. Instead of relying on new opportunities to be created in and approved by the north, the south should actively look to form its own arrangements.”
Isolation is not the rule or the goal; economically rational self-belief is. “Efforts to reshape global economic geography stem from a need to direct the loci of southern attention away from the North if auto-estima is to continue prospering both in Brazil and the global south. The challenge is to create a stable and self-sustaining new economic geography.”

Sean W. Burges (2005), “Auto-Estima in Brazil: The Logic of Lula’s South-South Foreign Policy,” International Journal 60 (3) (Autumn): 1133-1151.

An electronic copy of the journal article can be downloaded at www.coha.org

150) História recente do colonialismo e do imperialismo


Ao abrir hoje, 11 de janeiro de 2006, um de meus boletins eletrônicos de imprensa, percorrendo as notícias com o mesmo olhar vago de quem já anda saturado de informações, cheguei, finalmente, à seção de "aconteceu nesse dia". Sempre gosto de efemérides, dada minha atração especial pela história.
Mas o que li nesse this day in history?

Esta singela entrada, sem maiores explicações:
"Em 1943, Estados Unidos e Grã-Bretanha firmaram tratados para abandonar seus direitos extraterritoriais na China" (In 1943, the United States and Britain signed treaties relinquishing extraterritorial rights in China.)

Ou seja, exatamente 63 anos atrás, os EUA e o Reino Unido, então aliados da China na luta contra as potências do Eixo (Alemanha nazista, Itália mussoliniana e Japão militarista), davam finalmente por terminados os iníquos tratados desiguais que eles tinham extorquido do antigo regime imperial chinês em pleno século XIX. Em suma, pouco mais de duas gerações antes da nossa, a China era um país praticamente ocupado pelos principais países ocidentais, que ali dispunham de prerrogativas de, e se comportavam como, potências ocupantes.
O Japão já tinha entrado nessa brincadeira no final do século XIX, ao derrotar a China pelo controle de certos territórios (inclusive Taiwan), e novamente no início do século XX, ao derrotar novamente a China e a Rússia imperial, pelo controle do norte da China e pela tutela da Coréia (pouco depois convertida em simples colônia). Ele deu continuidade à sua política expansionista em 1931, invadindo e ocupando a Manchúria, e novamente em 1937, ao lançar-se à conquista de novos territórios chineses.
Bem antes dessa época, as grandes potências ocidentais já tinham extraído da China tratados e concessões iníquas, que representavam cessão de soberania e status de extraterritorialidade, que só vieram a termo, em 1943, em função das necessidades da guerra no Pacífico. Do contrário, é possível que a China permanecesse um país tutelado até praticamente os anos 1960, como ocorreu com a maior parte de outros territórios asiáticos e africanos.

Os contrastes entre essa situação humilhante e, de um lado, o antigo prestígio da China imperial dos tempos de Kublai Khan e de Marco Polo e, de outro, o novo respeito adquirido atualmente pela China no cenário internacional, em termos de poder econômico e possível desafio estratégico, não poderiam ser mais chocantes.
O interessante, porém, mais do que constatar a “perversidade” do colonialismo e do imperialismo contemporâneo, seria refletir sobre a marcha da história, aplicada ao caso chinês.
A ocupação e a humilhação da China não foram apenas o infeliz resultado da prepotência e da arrogância das potências colonialistas ocidentais. Elas foram, igualmente, o resultado da própria incapacidade da China de defender-se e de equiparar-se, econômica, tecnológica e militarmente às principais potências ocidentais.
E como isso foi possível, tendo em vista os precedentes chineses? De fato, até o século XVII, mais ou menos, a China detinha um dos melhores registros históricos em termos de inventividade humana (tendo oferecido ao mundo inovações fabulosas), uma das histórias políticas, artísticas e culturais mais longas do ponto de vista de sua continuidade, uma institucionalidade administrativa quase “weberiana”, enquanto Império unificado, bem como constituía a maior economia do mundo, pelo menos em termos de volume bruto.
Se as potências ocidentais, que tinham, em suas fases diferenciadas de modernização, aproveitado invenções chinesas geniais como a pólvora e a imprensa, puderam vencer, ocupar e “esquartejar” a China tão “facilmente” no decorrer do século XIX, foi porque a China deixou-se, de certo modo, dominar pela superioridade militar e tecnológica do Ocidente. Ou seja, ela já tinha entrado em decadência bem antes, parado de avançar na escala tecnológica e se convertido à introversão econômica.
Colonialismo e imperialismo nunca são atos (ou processos) unicamente unilaterais, pois eles dependem de determinado contexto econômico e político para se imporem e se “exercerem”.
Prova indireta disso pode ser oferecida pelas demandas atuais de certos grupos humanitários ou de intelectuais “imperialistas” para que de certos países, membros da ONU, enfrentando o caos político e um imenso sofrimento humano decorrente de seus Estados falidos, sejam colocados novamente sob “tutela internacional”, ou seja, que eles sejam recolonizados e submetidos a algum tipo de poder imperial.
A China atravessou seu “calvário” colonial de praticamente um século e meio de provações e humilhações. Macau e Hong-Kong, colonizadas pelos portugueses e pelos britânicos nos séculos XVI e XVIII, respectivamente, foram devolvidas à China apenas na segunda metade dos anos 1990. Taiwan configura um outro problema, dada sua população nativa, sua antiga ocupação japonesa, reconquista chinesa e nova ocupação pelas tropas “nacionalistas” do general Chiang Kai-Tchek, derrotado por Mao Tse-tung em 1949 na luta pela hegemonia política quando da reemergência da China enquanto potência independente.
Do ponto de vista político, Hong-Kong já não é mais independente, embora ainda tenha soberania econômica, enquanto território aduaneiro membro do GATT desde a origem. É possível que Hong-Kong exerça hoje certo “colonialismo” e “imperialismo” econômico sobre a China, uma vez que são os seus padrões econômicos, comerciais e financeiros, da mesma forma que os de Taiwan, que estão sendo adotados pela China continental e não o contrário. Como se vê, a dominação política e a “exploração” econômica nunca são partes de uma relação unicamente unidirecional, sendo antes uma interação bem mais complexa, que deita raízes na própria história.
Por isso é que eu gosto da história e é por isso que vou continuar lendo as páginas de efemérides nos jornais diários.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de janeiro de 2006, Blog 150.