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sábado, 31 de dezembro de 2005

101) El hombre de la Mancha desea a todos Ustedes un feliz 2006


Como muitos sabem, eu tenho particular apreciação pelo herói de Cervantes, não porque eu me imagine algum cavaleiro andante dos tempos atuais, salvando donzelas em perigo e reparando injustiças sociais, o que seria de todo modo impossível, dado o volume da oferta de ambas as ocorrências. Minha "afinidade eletiva" com esse herói goethiano (avant la lettre) é mais literária do que propriamente "profissional".

Mas é que eu gostei muitíssimo de ler o original de Cervantes, depois de já conhecer, desde a infância, a história aventurosa (e com muitas desventuras) de Dom Quixote, em versões para crianças.
Ao iniciar, muitos anos depois, a leitura do original de 1605, eu imediatamente me deparei, em um trecho do livro, com algumas frases que me pareceram memoráveis, e desde logo eu as recortei e guardei, como uma espécie de lembrança de que o excesso de livros pode deixar o leitor exagerado meio "maluco". Pode até ser, mas eu nunca parei de ler exageradamente por causa desse suposto perigo. Como forma de apreciação, eu até coloquei uma pequena expressão retirada desse trecho que reproduzo abaixo em evidência neste meu blog.

Neste último dia de 2005, gostaria de transcrever essas frases, como uma forma de homenagear Miguel de Cervantes Saavedra, no quarto centenário da primeira edição de Don Quijote de la Mancha, cuja publicação pela Real Academia Española me foi presenteada no mês de novembro último.

"Es, pues, de saber que este sobredicho hidalgo [Don Quijote], los ratos que estaba ocioso -- que eran los más del año --, se daba a leer libros de caballerías, con tanta afición y gusto, que olvidó casi de todo punto el ejercicio de la caza y aun la administración de sua hacienda; y llegó a tanto su curiosidad y desatino en esto, que vendió muchas fanegas de tierra de sembradura para comprar libros de caballerías en que leer, y así, llevó a sua casa todos cuantos pudo haber de ellos;
(...)
"En resolución, él se enfrascó tanto en su lectura, que se le pasaban las noches de claro en claro, y los días de turbio en turbio; y así, del poco dormir y del mucho leer, se le secó el celebro de manera que vino a perder el juicio."

(pp. 28-30 da "edición del IV centenário", Real Academia Española, 2004; ISBN: 84-204-6728-6)
Aproveito para deixar o endereço da biblioteca virtual Miguel de Cervantes: http://www.cervantesvirtual.com/

Como diria Cervantes, à maneira de despedida, "Vale!" (do latim: "que estejas bem").

Que todos estejam bem em 2006, com muitos e muitos livros, no limiar do juizo perfeito...

Um comentário:

Santa disse...

RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

FELIZ 2006, Santa.