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quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

112) Think again (3): os anti-globalizadores são de fato alternativos?


Pense duas vezes: os anti-globalizadores oferecem de verdade novas alternativas aos velhos problemas da economia de mercado?
Essas "soluções" seriam novas e seriam elas boas, as duas coisas ao mesmo tempo, ou nem uma nem outra? Pretendo, desta vez, fazer algumas considerações metodológicas, antes de discutir os problemas concretos da economia de mercado e as "soluções" oferecidas pelos anti-globalizadores.

Em primeiro lugar, eles seriam, de verdade, alter-mundialistas, como proclamam, ou simplesmente anti-globalizadores?
Já vimos, pelo post anterior, que sua pretensão a oferecer um "outro mundo possível" é muito pouco credível, dada a total inexistência de propostas concretas sobre como organizar esse mundo (ou qualquer outro).
Fiquemos, portanto, na anti-globalização, que, ela sim, é um movimento de sucesso, aliás, muito mais ruidoso e organizado do que o dos altermundialistas, que são apenas um pequeno bando de irredutíveis gauleses (que preferem a palavra "mundialização" ao conceito bem mais comum de "globalização", para não terem de se render ao "imperialismo linguístico anglo-saxão).
O movimento anti-globalizador se constituiu para se opor a algo de concreto: a globalização que “está aí, aos nossos olhos”, que é por essência capitalista e de mercado. Contra ela se mobilizam todos aqueles que têm algumas idéias na cabeça e algumas soluções tentativas (partimos da presunção de que todas são consistentes até prova em contrário).
Também partimos do pressuposto de que os anti-globalizadores têm essas soluções alternativas que eles gostariam de propor aos demais, esperando, em algum momento, que elas sejam aceitas pelos que decidem e que elas possam, assim, converter-se algum dia em realidade.

Como vêem, parto do pressuposto de que os anti-globalizadores têm algo a dizer, que esse algo faz sentido, que seus argumentos merecem ser considerados e que vale a pena, a despeito do seu caráter heteróclito, debater com esse movimento ruidoso, ainda que ela me pareça marcado por uma certa cacofonia conceitual.
Confesso, também, que tenho tido uma certa dificuldade em identificar precisamente as “idéias” dos anti, na medida em que eles parecem mais propensos a fazer manifestações do que em colocar no papel, de forma ordenada, seus argumentos anti, ou mesmo a favor de alguma coisa, qualquer coisa que permita substituir “esta” globalização por outra.

Rendendo uma modesta homenagem à minha tribo de origem, os sociólogos, considero, de minha parte, que o movimento anti-globalizador é uma ideologia, e que, como todas as ideologias, parte de uma certa concepção do mundo e da realidade, concepção que recusa o mundo como ele é e que pretende mudar-lhe os fundamentos ou o seu modo de funcionamento, de modo a torná-lo mais conforme aos princípios e idéias defendidos por esse movimento.
Chamemos a esse movimento “ideologia da anti-globalização”, se me permitem o empréstimo de sabor levemente marxista. Não há nenhum preconceito nesta caracterização, pois eu aceito que chamem à minha própria concepção do mundo “ideologia da globalização”, com todas as conseqüências que isto implica, isto é, o desejo de fazer com o que o mundo também se conforme àquilo que eu julgo ser bom e desejável para seus habitantes, isto é, um pouco mais, ou bem mais, na verdade doses maciças de globalização, com todos os seus efeitos “devastadores” (no bom e no mau sentido).

Admitamos, portanto, que somos ambos “ideólogos”, eu e os adeptos da anti-globalização, e nisto não vai nenhum julgamento preliminar negativo; trata-se apenas de uma constatação. Há uma diferença, porém, entre eu e os anti-globalizadores: eu não pertenço a nenhum movimento, grupo, partido, seita, igreja, confraria, clã ou tribo.
Não costumo freqüentar fóruns pró- ou anti-globalização e não admito nenhum argumento de autoridade que se interponha entre a informação que busco e recebo – de todas as fontes possíveis – e minhas próprias reflexões independentes.
Sou um ser livre, tanto quanto me permite a minha condição de assalariado do Estado e atividades acadêmicas à margem da jornada na burocracia pública. Sou eu e meu computador, apenas, no qual escrevo e no qual recolho as informações que me chegam de todas as partes sobre a globalização e o seu contrário, isto é, o quixotesco movimento anti-globalizador.

Faço aqui um último parágrafo introdutório para me desculpar pelo adjetivo usado acima, isto é, “quixotesco”, em relação aos adeptos da anti, mas é que considero, de verdade, esse movimento como sendo quixotesco, isto é, uma figura (neste caso coletiva) levantada de lança em riste contra alguns moinhos de vento que só existem na cabeça dos que esgrimem argumentos anti-globalização, como passo a discutir nos posts seguintes.

Portanto, antes de achar que os anti-globalizadores oferecem soluções efetivas aos velhos problemas das desigualdades, desajustes e desequilíbrios inerentes às economias de mercado, pense duas vezes se são de fato realizáveis as alternativas apresentadas e se elas representam reais soluções aos problemas que pretendem resolver...

(À suivre...)

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