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domingo, 15 de janeiro de 2006

165) Resultados antecipados do Foro de Caracas: um exercício de futurologia garantida...


A partir do dia 24 do corrente mês de janeiro de 2006, anti-globalizadores de toda a América Latina estarão reunidos em Caracas, unidos na caótica cacofonia globalizada que costuma marcar esse tipo de encontro do Fórum Social Mundial (agora em formato “policêntrico). Nunca, tanta gente junta dispensará tanto esforço para gritar em conjunto contra a globalização e o neoliberalismo e proclamar que um “outro mundo é possível” (agora, na nova modalidade, uma outra América Latina também...).
Como sempre, estarei aguardando – já são longos anos que espero – que, ao final desse novo encontro, nos digam quais são, exatamente, os tais caminhos alternativos à globalização capitalista e à economia de mercado, quais são o perfil, o conteúdo e a forma de organização desse outro mundo prometido. Confesso que tenho uma leve (mas cada vez mais pesada) suspeita de que nada de concreto emergirá desse novo encontro, mas gostaria de dar um crédito de confiança ao pessoal anti-globalizador, esperando que eles nos apresentem, finalmente, pelo menos o contorno, a primeira arquitetura desse novo mundo anunciado repetidamente há tantos anos. Não é possível, finalmente, que tantos universitários em assembléia, tanta inspiração no meio de alguma transpiração, tantos cérebros ativos e mobilizados não consigam produzir algo de minimamente racional sobre os fins pretendidos pelo movimento.

Em todo caso, desta vez resolvi não esperar o fechamento do encontro e a apresentação das conclusões. Vou eu mesmo apresentar algumas resoluções que estou certo resultarão do piquenique de Caracas, prometendo conferir em fevereiro a lista das conclusões que dali emergirão, para confrontá-las com as minhas. Na capital venezuelana, a vanguarda da anti-globalização aprovará, aclamará, confirmará as seguintes contribuições para nossa atenta leitura:

1) A globalização produz inevitavelmente crises econômicas, desigualdades sociais e retrocessos políticos, como “demonstrado” pela distância cada vez maior entre pobres e ricos (países e indivíduos), pelo aumento da concentração de renda, pelo desemprego e pela arrogância imperial da única superpotência global.

2) O imperialismo e suas receitas neoliberais – como as do “consenso de Washington” – têm produzido estagnação econômica e colapso em países da América Latina, em virtude de sua adesão acrítica e incondicional às políticas neoliberais; as políticas do FMI estão causando recessão e retrocessos sociais em quase todos os países da América Latina.

3) A soberania nacional precisa ser defendida contra o projeto imperialista de uma zona de livre comércio hemisférica, imposta contra a vontade dos povos latino-americanos pelo capital monopolista americano, que pretende nivelar o terreno para criar um espaço econômico ampliado para a “acumulação ampliada de capital”.

4) Deve-se defender a legitimidade de políticas públicas de “reserva de mercado” e de apoio a uma “agricultura multifuncional”, garantindo a segurança alimentar e a soberania na definição de políticas setoriais de desenvolvimento nacional.

5) O racismo, a discriminação contra a mulher, a opressão dos povos periféricos e o próprio terrorismo fundamentalista são o resultado da globalização e de um processo histórico marcado pela ocupação imperialista, que insiste em preservar “estruturas de dominação”, inclusive mediante o “terrorismo de Estado”.

6) Mas, como demonstrado pelo encontro de Caracas (como antes em Porto Alegre), um outro mundo e uma outra América Latina são possíveis; políticas alternativas são, não apenas desejáveis como, absolutamente necessárias. Essas políticas passam pela vida antes do lucro e pela promoção dos direitos humanos à frente dos direitos do capital. Os fluxos especulativos desse parasita social que é o capital financeiro internacional devem ser adequadamente controlados e tributados, se possível pela aplicação universal da Tobin Tax.

Essas são, em síntese, algumas das conclusões e resoluções que resultarão do rendez-vous de Caracas.
Não acreditam? Vamos marcar novo encontro no início de fevereiro neste mesmo espaço para verificar a lista das resoluções (se houver). Podemos também proceder a uma comparação com os debates do Fórum Econômico Mundial (dos capitalistas de Davos).
Meu slogan do momento seria: um outro Fórum é possível...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de janeiro de 2006

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