domingo, 25 de dezembro de 2005
71) Resoluções de Ano Novo (I)
Uma nova “caixa de surpresas” para o ano que se inicia
Paulo Roberto de Almeida
No mês de janeiro do ano da graça de 2005, publiquei o ensaio “Sete previsões imprevidentes”, apresentado como uma “caixa de surpresas” para o novo ano, cujas apostas provocadoras e visivelmente exageradas eram, resumidamente, as seguintes:
1. O governo decreta sua conversão ao capitalismo;
2. O Estado decide retirar-se parcialmente de cena;
3. Radical inversão das políticas sociais;
4. Concentração de recursos na educação fundamental;
5. Acaba a era Vargas: abolida a Justiça do Trabalho;
6. Decretado o fim da reforma agrária e
7. Maior abertura e inserção econômica internacional.
Tive sorte: nenhuma delas se confirmou, mas não pretendo retomar aqui os argumentos em “defesa” de cada uma dessas propostas (que podem ser lidas no link http://www.espacoacademico.com.br/044/44pra.htm). Como afirmei, eu não pretendia que minhas previsões se realizassem, mas ao contrário, que elas, justamente, não ocorressem. Para não ter de competir com os futurólogos oficiais e outros astrólogos oficiosos, eu dizia preferir “arriscar minha (baixa, ou inexistente) reputação (nessa área) na previsão de coisas impossíveis, aquelas que poderiam ser classificadas no gênero ‘surpresas’.”
E continuava: “Sobre elas não estou disposto a aceitar qualquer aposta ou, que seja, a menor responsabilidade intelectual por eventuais fracassos, aliás implícitos e totalmente previsíveis no meu gênero particular de previsão. Talvez minhas probabilidades de ‘acerto’, estejam aí mesmo, no fracasso completo e definitivo de previsões tão imprevidentes quanto as que pretendo fazer.” Eu ainda tomava o cuidado de alertar que, se por acaso alguma de minhas “surpresas” se materializar na prática, terá sido, como se alerta nos frontispícios dos romances policiais e em certos filmes, por pura coincidência, não cabendo nenhuma responsabilidade ao autor por correspondência involuntária com fatos e personagens da vida real.
Como eu antecipava – e acertei em cheio, mas não apostei nada, tanto por não acreditar em jogos de azar, como por falta de recursos próprios, mas entendo também que ninguém se disporia a arriscar seus tostões com previsões tão “imprevidentes” –, nenhuma dessas “previsões” se realizou. Na verdade, sequer chegamos perto de sua materialização parcial, o que era totalmente esperado. Já que a intenção era essa mesma, ficou o exercício no plano puramente intelectual, sem que, no entanto, eu renegue, no plano das projeções programáticas e das políticas públicas, nenhuma daquelas colocações visivelmente exageradas, mas enquadradas numa certa visão do mundo, que acredito ser a mais condizente para o progresso material e espiritual deste nosso tão sofrido Brasil.
Pois bem, o exercício que pretendo propor agora também se encaixa numa das muitas modalidades do gênero “fantasias de final (ou de começo) de ano”. De fato, como ocorre por ocasião dessas festividades anuais, caímos na tentação de persistir ou inovar na previsão dos próximos doze meses. Para isso, o caminho usual parece ser o de se armar de algumas doses de coragem, de um pouco de convicção pessoal e de muita idealização mental para estabelecer, para nós mesmos, uma série de resoluções prospectivas que, uma vez escritas no papel, nos comprometemos a cumprir ao longo do ano que se inicia. Existe muito de auto-ilusão nesse tipo de exercício, mas não custa nada alimentar um pouco de otimismo quanto à eventual factibilidade dessas previsões.
Sem mais delongas, para não cansar meus (parcos) leitores, vejamos quais resoluções eu poderia estabelecer para mim mesmo nos próximos doze meses. Se, por um acaso, qualquer uma delas servir igualmente para outras situações comparáveis, no plano pessoal ou até mesmo social, alerto desde já que não me cabe qualquer responsabilidade por essa extensão indevida, não pretendida e não devidamente contabilizada nas planilhas e projetos que costumo regularmente fazer para melhorar minha própria vida (e por extensão, talvez por excesso de otimismo, a de meus amigos e semelhantes neste país bizarro em que vivemos).
Vejamos primeiro, resumidamente, minhas promessas, depois eu desenvolvo.
1. Manter a contabilidade lá de casa em ordem e equilibrada;
2. Gastar só o que estiver as minhas possibilidades, sem entrar no cheque especial;
3. Escolher bem os amigos, para não se sentir “traído”, depois;
4. Selecionar melhor os auxiliares da minha quitanda, para o bem de todos;
5. Falar sempre a verdade, doa a quem doer, por maior constrangimento que houver;
6. Terminar de ler, sem falta, aquele livro do Celso Furtado.
(continua...)
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